A febre da tadalafila: da farmácia ao hit, o que está por trás da popularização do “remédio da potência”

De medicamento para disfunção erétil a tema de música popular, a tadalafila se transformou em um fenômeno de consumo no Brasil. Vendida sob nomes como Cialis e Adcirca, a substância pertence à classe dos inibidores da fosfodiesterase tipo 5 (PDE-5), a mesma do conhecido Viagra (sildenafila). Embora tenha usos clínicos bem definidos, como o tratamento da disfunção erétil, hiperplasia prostática benigna (HPB) e hipertensão arterial pulmonar (HAP), seu uso desregulado vem crescendo — impulsionado por promessas de “superdesempenho” sexual e até mesmo de ganho muscular.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) acendeu o alerta nesta semana ao proibir a comercialização da bala Metbala, um doce tipo gummy à base de tadalafila, classificado como produto irregular. “Não tem registro, controle de fabricação nem qualquer garantia de segurança”, destacou a Anvisa em nota.

Popularização turbinada pela mídia e redes sociais

Em 2024, a tadalafila foi o terceiro princípio ativo mais vendido do país, segundo levantamento da consultoria Close-Up International. Só em 2023, as vendas cresceram quase 39%, totalizando mais de 47 milhões de caixas comercializadas. O impulso não veio apenas das farmácias: músicas como “Tadalafila”, de Os Barões da Pisadinha e Alanzim Coreano, ajudaram a consolidar o nome da substância no imaginário popular — principalmente entre os mais jovens.

“O segredo pra aguentar a noite todinha? Tadalafila!”, diz um dos versos do hit viral.

Uso recreativo preocupa especialistas

Com a crescente exposição midiática, o uso da tadalafila sem prescrição médica se espalhou. Homens jovens e saudáveis passaram a consumir o medicamento em festas, academias e até de forma regular como parte da rotina de “melhora do desempenho”. Para o Conselho Federal de Farmácia (CFF) e outras entidades médicas, esse comportamento é preocupante.

“O uso recreativo pode mascarar doenças de base, como disfunções hormonais, além de provocar dependência psicológica, onde o indivíduo acredita não ser capaz de ter desempenho sexual sem a droga”, alerta a farmacêutica Fátima Cardoso, conselheira do CFF.

A automedicação também aumenta o risco de efeitos adversos, como dores musculares, dores de cabeça, queda de pressão arterial, distúrbios visuais e até problemas cardiovasculares graves, principalmente em pessoas que tomam nitratos.

Verdades científicas: quando a tadalafila é realmente indicada

Ao contrário do que a popularização sugere, a tadalafila não é um suplemento ou um estimulante geral. Sua indicação se dá em três casos bem específicos:

  • Disfunção erétil (DE): facilita a ereção ao aumentar o fluxo sanguíneo no pênis durante a estimulação sexual;
  • Hiperplasia prostática benigna (HPB): alivia sintomas urinários como dificuldade para urinar ou necessidade de urinar várias vezes à noite;
  • Hipertensão arterial pulmonar (HAP): melhora a capacidade de exercício em pacientes com pressão elevada nas artérias pulmonares (em formulação e dose específicas).

No caso da HAP, a Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS) avaliou que a tadalafila não é superior à sildenafila e tem custo mais elevado, recomendando que não seja incorporada ao SUS para esse fim.

Academias e mitos sobre ganho de massa muscular

Um novo uso fora da bula tem ganhado espaço nas academias: o de que a tadalafila ajudaria na hipertrofia muscular, por aumentar o fluxo de sangue para os músculos. No entanto, não há evidência científica sólida que sustente essa prática. Médicos alertam que a prescrição nesses casos, se feita sem respaldo clínico, configura falha ética.

“Se o profissional prescreve a tadalafila apenas para prática de exercício, sem base científica, ele está cometendo infração ética”, afirma o urologista Joaquim Francisco de Almeida, do CREMESP.

Tarja vermelha e prescrição obrigatória

Classificada como medicamento de tarja vermelha, a tadalafila só pode ser vendida com receita médica, e seu uso exige avaliação detalhada do paciente. É contraindicada para pessoas com doenças cardíacas graves, pacientes em uso de nitratos ou com hipersensibilidade à substância.

“A busca por prazer, desempenho ou status não pode superar o cuidado com a saúde. A banalização de medicamentos é perigosa e pode ter consequências irreversíveis”, reforça Fátima Cardoso.


O que você precisa saber antes de usar tadalafila

  • É medicamento, não suplemento.
  • Uso recreativo pode gerar dependência psicológica.
  • Riscos aumentam sem avaliação médica.
  • Não promove ganho de massa muscular.
  • Venda sem receita é infração sanitária.

Conclusão:
A tadalafila é um avanço farmacológico importante, capaz de melhorar significativamente a qualidade de vida de pacientes com problemas específicos. Porém, seu uso deve ser sempre responsável e supervisionado. O modismo em torno da substância não pode obscurecer os riscos de uma automedicação que, em vez de melhorar, pode colocar a saúde em jogo.

Por Damata Lucas

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