Por Damata Lucas
Na quarta-feira (11), o Brasil testemunhou mais um capítulo sombrio da aliança entre a velha mídia, o mercado financeiro e a extrema direita. Enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tentava explicar à Câmara dos Deputados os esforços do governo para recuperar a economia brasileira, foi violentamente hostilizado por parlamentares bolsonaristas — Carlos Jordy, Nikolas Ferreira, Marco Feliciano e José Medeiros — num espetáculo grotesco de ódio, desinformação e sabotagem institucional.
Menos de 24 horas depois, o jornal O Globo, porta-voz histórico da elite econômica e do conservadorismo disfarçado de jornalismo técnico, estampou em sua página principal um editorial que não apenas endossa esses ataques, mas incita uma rebelião parlamentar contra qualquer avanço social ou distribuição de renda promovida pelo governo Lula.
Não é a primeira vez que o Grupo Globo se coloca contra o Brasil real — o Brasil das periferias, dos trabalhadores, dos aposentados, da juventude que depende da escola pública, da população que sonha com o Minha Casa Minha Vida. Ao contrário: há décadas, a Globo trabalha sistematicamente para impedir que a justiça social se torne política de Estado, travando o avanço de governos progressistas e promovendo o medo, o caos e a desinformação como instrumentos de controle político.
É esse o verdadeiro “caos” temido pelo editorial: o fim dos privilégios de uma elite que sempre viveu à custa da miséria da maioria. Para o jornal da família Marinho — dona de um império de R$ 51 bilhões, offshores em paraísos fiscais e lucros bilionários com publicidade estatal e concessões públicas —, o maior risco fiscal não é o juro abusivo cobrado pelo sistema financeiro ou os bilhões sonegados por grandes corporações. O problema, segundo eles, está no aumento do salário mínimo, no reajuste de aposentadorias, no piso constitucional para saúde e educação.
Essa narrativa não é apenas imoral. É criminosa.
É criminosa porque naturaliza a desigualdade como destino. Porque tenta convencer o povo de que a única saída para o país é cortar direitos, abandonar os mais pobres e entregar a economia ao mercado. É criminosa porque substitui o debate democrático por intimidação midiática e chantagem econômica. E é criminosa porque incita o ódio político e legitima ataques físicos e verbais contra representantes eleitos e ministros de Estado.
O que está em jogo aqui não é apenas a política econômica de um governo. É a soberania democrática do Brasil.
Quando a Globo se alia a deputados neofascistas para sabotar o governo eleito, ela não está apenas defendendo os interesses da Faria Lima, dos bilionários da Forbes, das plataformas de apostas e dos fundos imobiliários. Ela está dizendo, em alto e bom som, que o povo não tem direito a decidir seu próprio destino. Que a democracia só serve enquanto beneficia os de cima. Que, se o povo elege um governo popular, esse governo deve ser sabotado até cair — seja pelo impeachment, pela chantagem fiscal, ou por manchetes enviesadas.
A mesma Globo que hoje se insurge contra impostos sobre apostas, contra taxação de lucros e dividendos, contra o reajuste do mínimo, é a que ontem incitou a prisão de Lula, alimentou a farsa da Lava Jato e viabilizou a chegada do bolsonarismo ao poder. E que agora, com a máscara da neutralidade editorial, tenta ressuscitar essa agenda que destruiu o país entre 2016 e 2022.
Mas o Brasil mudou. E o povo também.
É hora de fazer frente a essa ofensiva. De desmascarar o teatro cínico dos editoriais da Globo. De romper com a lógica de um Congresso sequestrado pelo mercado e pela extrema direita. É hora de cobrar a regulação da mídia, de exigir transparência nas contas dos grandes grupos de comunicação, de reverter a captura do orçamento público por bancos, bets e bilionários.
Não há futuro para o Brasil enquanto o sistema político continuar refém dos interesses que falam pela boca da Globo.
Aos trabalhadores, estudantes, aposentados, aos movimentos populares, à sociedade civil organizada: não se calem. Reajam. A democracia brasileira não será destruída por editoriais golpistas, por deputados moleques ou por bilionários escondidos em offshores.
Este país não está à venda.