Acidente na Índia provoca debate sobre garantia de sobrevivência em queda de aeronaves

Artigo publicado pelo Clique PI sobre segurança em voos é tema de mais reportagens sobre o assunto

O recente artigo do Clique PI sobre os locais mais seguros em aviões — com base em dados técnicos e relatos de especialistas — evidenciou a necessidade de um debate público informando sobre segurança aérea, indo além do sensacionalismo.

O Fantástico, da Rede Globo, dedicou uma longa matéria ao tema neste domingo, aprofundando as discussões que foram destaque na reportagem desse site. A cobertura nacional reforça a importância de jornalismo com base em dados, capaz de provocar impacto e reverberar em grandes veículos.

Um único sobrevivente e quase 280 mortos

Sobre o acidente aéreo que ocorreu na Índia, no dia 12 de junho de 2025, com um Boeing 787‑8 Dreamliner da Air India (prefixo VT‑ANB), que decolou de Ahmedabad às 13h38 (IST), rumo ao aeroporto de London Gatwick, até o momento, foram confirmadas 279 mortes, sendo 241 a bordo e pelo menos 38 em solo, além de mais de 60 feridos. O único sobrevivente é o britânico Vishwash Kumar Ramesh, que estava no assento 11A, à direita da aeronave, duas fileiras à frente das asas. Ele está internado e relatou ter ouvido um “estrondo” cerca de 30 segundos após a decolagem. Especialistas consideram sua sobrevivência um caso raro, mas não impossível, especialmente pela proximidade da saída de emergência.

O que pode ter causado o acidente?

As causas ainda estão em investigação. Ambos os gravadores de voo — o de voz (CVR) e o de dados (FDR) — foram recuperados. Um deles sofreu danos, mas ambos são legíveis. A Administração Geral de Aviação Civil da Índia (DGCA), em parceria com autoridades britânicas, a Boeing e a GE Aerospace, apura:

  • Possível falha dupla de motor, evidenciada pelo acionamento do Ram Air Turbine (RAT) — sistema que entra em funcionamento emergencial para manter sistemas básicos.
  • Irregularidades em flaps, trem de pouso e sistemas hidráulicos.
  • Erro humano ou falha na manutenção.

Enquanto o CEO da Air India, Campbell Wilson, prometeu transparência, o presidente da companhia, N. Chandrasekaran, pediu que a dor do momento seja transformada em um compromisso com a elevação dos padrões de segurança. O governo da Índia solicitou inspeção emergencial da frota de Boeing 787 da companhia. O primeiro-ministro Narendra Modi expressou pesar e visitou o sobrevivente. Do Reino Unido, o premiê Keir Starmer e o rei Charles também acompanharam o caso, dado que 53 britânicos estavam a bordo.

Este é o primeiro acidente fatal com um Boeing 787-8 Dreamliner desde que o modelo entrou em operação comercial, em 2011.


Fatores que influenciam a sobrevivência em quedas de avião

Embora tragédias como essa pareçam não deixar espaço para sobreviventes, há fatores comprovados que aumentam as chances de escapar com vida em caso de acidentes aéreos. Especialistas em segurança de voo e estudos acadêmicos identificam algumas variáveis cruciais:

1. Localização do assento

Estudos da revista TIME, baseados em dados da FAA (Administração Federal de Aviação dos EUA), revelam que os assentos traseiros têm menor taxa de mortalidade (32%), contra 38% na dianteira e 39% no centro da aeronave. Os assentos do meio da fileira traseira (como os identificados pela letra B) apresentam a menor taxa de todas: 28%.

2. Proximidade da saída de emergência

Um estudo da Universidade de Greenwich (2008) aponta que passageiros próximos às saídas de emergência têm mais chances de sobreviver, principalmente se agirem rapidamente após o impacto. O tempo médio para evacuação bem-sucedida em acidentes com fogo ou fumaça é de apenas 90 segundos.

3. Uso correto do cinto de segurança

Mesmo em impactos severos, estar corretamente afivelado ao assento pode evitar ferimentos graves, especialmente na cabeça e no tórax.

4. Velocidade e ângulo do impacto

A chance de sobrevivência também está ligada à forma como a aeronave colide com o solo — se em baixa velocidade e com o nariz elevado, o impacto é menos letal.


Casos marcantes de acidentes com sobreviventes

Voo 1549 da US Airways (2009) – “Milagre do Hudson”

O Airbus A320 pousou no rio Hudson após colisão com aves. Todos os 155 ocupantes sobreviveram, graças à ação rápida do piloto Chesley Sullenberger e da tripulação.

Voo 255 da Northwest Airlines (1987)

Apenas uma sobrevivente — a menina Cecelia Cichan, de 4 anos — foi encontrada viva após o acidente que matou 154 pessoas. Ela estava na parte traseira da aeronave.

Voo 232 da United Airlines (1989)

Após falha completa dos sistemas hidráulicos, o DC-10 fez pouso de emergência com 185 sobreviventes entre 296 a bordo, apesar da destruição parcial da fuselagem.


E o que dizem os especialistas?

Para o comandante e perito em segurança de voo José Henrique Maluf, a sobrevivência de Ramesh no voo da Air India pode ter envolvido uma conjunção de fatores. “O local do assento, a forma como ele reagiu e a proximidade da saída de emergência foram determinantes. Não se trata apenas de sorte, mas de conhecer e seguir os procedimentos”, afirma.

A especialista em evacuação de aeronaves da Universidade de Cranfield (Reino Unido), Emily Ross, acrescenta: “Nossos estudos mostram que os primeiros 30 segundos após o impacto são vitais. O passageiro que consegue se desamarrar, localizar a saída e manter a calma aumenta significativamente suas chances”.


A tragédia e o futuro da segurança aérea

O acidente do voo AI 171 não só abalou a aviação comercial internacional por envolver um dos jatos mais modernos do mundo, como também acendeu alertas sobre falhas mecânicas em aeronaves de última geração. A ativação do RAT em baixa altitude é vista como um indicativo de falhas críticas de energia, e será foco da investigação técnica.

Além das causas, o caso lança luz sobre a importância da conscientização do passageiro sobre medidas de segurança — da escolha do assento ao preparo para emergências.

O relatório final das autoridades deve sair nas próximas semanas ou meses. Mas, desde já, o mundo da aviação enfrenta o desafio de aprender com a tragédia para evitar que ela se repita.

Da Redação – Imagem: ChatGpt

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