Está no catálogo da Netflix a minissérie britânica “Adolescência”, uma produção intensa e imersiva composta por quatro episódios filmados em plano-sequência. A trama acompanha Jamie Miller, um garoto de 13 anos acusado do assassinato de uma colega de classe, abordando os impactos de sua detenção, interrogatório e as consequências emocionais e sociais que reverberam em sua família e comunidade.
Uma reflexão sobre a influência digital
Mais do que um suspense envolvente, “Adolescência” lança um olhar profundo sobre temas contemporâneos como a radicalização online, a misoginia cultural e os perigos das redes sociais na formação psicológica dos jovens. Para o neurocientista e pós-PhD Dr. Fabiano de Abreu Agrela, a minissérie retrata um fenômeno preocupante: os efeitos devastadores da falta de atenção emocional aliada ao uso excessivo e descontrolado das redes sociais.
Segundo o especialista, Jamie não apresenta transtornos clássicos como sociopatia ou bipolaridade. Seu comportamento é marcado por impulsividade, oscilação de humor e necessidade de dominação, muitas vezes como uma forma de compensar a insegurança afetiva.
O novo transtorno gerado pelo excesso de redes sociais
A série levanta um alerta para pais, educadores e profissionais de saúde mental: adolescentes estão cada vez mais despreparados para lidar com frustração, rejeição e conflitos. As redes sociais acabam se tornando um escape perigoso, reforçando comportamentos disfuncionais.
O Dr. Fabiano de Abreu Agrela denomina esse fenômeno como um novo padrão clínico emergente: o transtorno derivado do excesso de redes sociais. Embora ainda não seja um diagnóstico oficial, sintomas como ansiedade social, dependência de validação externa, empobrecimento da empatia e aumento da reatividade emocional têm sido recorrentes em adolescentes expostos a um uso descontrolado da internet. O problema se agrava em jovens que cresceram sem uma base segura de afeto e regulação emocional.
A urgência do controle parental
Nunca foi tão necessário que pais acompanhem de perto a vida digital dos filhos. Em um mundo onde a internet deixou de ser apenas uma ferramenta para se tornar parte da identidade dos jovens, controlar apenas o tempo de tela não é suficiente. É essencial supervisionar o tipo de conteúdo consumido, as comunidades frequentadas e, principalmente, fortalecer o vínculo afetivo fora das telas.
“A construção da identidade na adolescência exige espelhamento emocional e limites afetivos. Sem isso, o adolescente busca pertencimento onde encontra acolhimento — mesmo que seja em grupos que propagam ódio, misoginia e violência como formas de compensar sua insegurança”, alerta o Dr. Fabiano de Abreu Agrela.
Saúde mental começa em casa
O caso de Jamie na série pode parecer extremo, mas não é raro. Cada vez mais adolescentes apresentam sinais de desorganização emocional, radicalização e sofrimento silencioso. “Estamos diante de uma crise emocional geracional, onde o abandono é afetivo, e não físico. As redes sociais, quando não mediadas por adultos conscientes, potencializam traços disfuncionais”, explica o especialista.
Mais do que um entretenimento envolvente, “Adolescência” é um convite à reflexão. Jovens precisam mais do que telas e liberdade: precisam de pais presentes, atentos e emocionalmente disponíveis. A saúde mental começa dentro de casa.
Edição: Clique PI – Imagem: IA Freepik