Adolescência pode se estender até os 24 anos, apontam especialistas

Durante muito tempo, a adolescência foi compreendida como o período entre os 12 e 18 anos, marcado principalmente pelas transformações físicas da puberdade. No entanto, essa definição tem sido revista por especialistas em diversas áreas do conhecimento. Psicólogos, sociólogos, educadores e neurocientistas agora reconhecem que a adolescência pode se estender até os 24 anos, acompanhando não apenas mudanças biológicas, mas também sociais e culturais que redefinem o amadurecimento humano.

O cérebro ainda está em desenvolvimento

Estudos em neurociência mostram que o cérebro humano continua em processo de maturação até, em média, os 25 anos de idade. Regiões como o córtex pré-frontal — responsável por funções como controle de impulsos, planejamento, julgamento e tomada de decisões — só atingem sua plena funcionalidade na terceira década de vida. Isso significa que, mesmo após os 18 anos, os jovens ainda estão desenvolvendo competências cognitivas e emocionais fundamentais para a vida adulta.

De acordo com a pesquisadora australiana Susan Sawyer, autora de um influente artigo publicado na revista The Lancet, a ampliação da faixa etária da adolescência para os 24 anos reflete melhor a realidade biológica e social dos jovens atuais. Para ela, essa mudança de entendimento pode ajudar na formulação de políticas públicas mais eficazes, alinhadas às reais necessidades dessa faixa etária.

Fatores sociais e econômicos também pesam

A entrada tardia no mercado de trabalho, a ampliação da vida acadêmica e as dificuldades econômicas enfrentadas por grande parte da juventude também contribuem para prolongar esse período de transição. Muitos jovens vivem por mais tempo com os pais, iniciam relacionamentos mais tarde e demoram mais para alcançar marcos tradicionalmente associados à vida adulta, como a estabilidade financeira, a independência residencial e a formação de uma família.

O aumento da expectativa de vida é outro fator que altera a percepção sobre o tempo de amadurecimento. Se viver até os 80 anos ou mais se tornou comum, é natural que as etapas da vida também sejam reavaliadas e reorganizadas. Nesse cenário, a juventude se expande, e o início da vida adulta se torna um processo mais gradual.

Implicações para a sociedade

Essa nova compreensão da adolescência exige uma atualização de práticas educacionais, de saúde e políticas públicas voltadas aos jovens. Programas de apoio psicológico, orientação profissional, acesso à educação e oportunidades de emprego precisam considerar que muitos jovens ainda estão em fase de construção de identidade e de amadurecimento emocional e cognitivo.

Para as famílias, esse entendimento pode ajudar a reduzir cobranças excessivas e expectativas irreais. Reconhecer que a autonomia plena e a estabilidade emocional não ocorrem automaticamente aos 18 anos é fundamental para criar um ambiente de apoio mais empático e realista.

Um novo olhar para o jovem do século 21

Reavaliar os limites da adolescência é uma forma de acompanhar as transformações da sociedade contemporânea. A juventude de hoje enfrenta desafios diferentes, lida com novas pressões e tem um percurso de vida mais complexo. Entender esse contexto é essencial para garantir que os jovens sejam vistos não apenas como adultos em formação, mas como sujeitos com necessidades e direitos próprios, em um processo legítimo e contínuo de desenvolvimento.

Edição: Damata Lucas – Imagem: Freepik

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