Na noite deste sábado (31), uma adolescente identificada como Maria Eduarda Araújo Alves, de 17 anos, foi executada com um disparo na nuca dentro de sua residência, localizada na Rua Manoel Borges, bairro Nossa Senhora da Conceição, no município de Luís Correia, litoral do Piauí.
De acordo com informações repassadas pela Polícia Militar, o crime ocorreu por volta das 22h. Dois indivíduos armados, utilizando uma motocicleta modelo Honda Pop de cor preta, sem placa identificada, invadiram o imóvel onde a vítima residia. Maria Eduarda estava sentada no terraço dos fundos da casa, manuseando o celular, quando foi surpreendida e alvejada por um tiro fatal na região da nuca. A adolescente morreu no local, sem chance de defesa.
Após a execução, os autores deixaram uma mensagem escrita com giz na parede da casa: a inscrição “X9”, termo popularmente usado no meio criminoso para se referir a delatores ou pessoas acusadas de colaborar com forças de segurança. O recado deixado pelos executores reforça a linha de investigação de que o homicídio tenha sido uma ação premeditada, com características típicas de crime de tribunal do crime, modalidade frequentemente praticada por facções criminosas para eliminar supostos traidores ou informantes.
Modus operandi indica atuação de facção
O modo como a ação foi conduzida — invasão rápida, execução com tiro certeiro na nuca e mensagem deixada no local — aponta para um padrão típico de execuções sumárias atribuídas a facções criminosas. Esse tipo de crime tem como objetivo impor o medo, marcar território e silenciar qualquer tentativa de colaboração com a polícia.
Em muitos estados, inclusive no Piauí, facções organizadas têm adotado práticas de “justiçamento” interno, criando códigos de conduta próprios e punindo membros ou moradores de comunidades que desrespeitam suas regras, denunciam atividades ilegais ou demonstram algum tipo de insubordinação.
A mensagem “X9” deixada no local é um símbolo claro desse tipo de “sentença extrajudicial”. Muitas vezes, os alvos são adolescentes ou jovens envolvidos ou próximos do tráfico, usados como “soldados” e descartados ao menor sinal de quebra de confiança.
Investigações em andamento
Equipes da Polícia Militar realizaram buscas na região ainda durante a noite, mas nenhum suspeito foi localizado até o momento. A cena do crime foi isolada para os trabalhos da perícia criminal, e o corpo da jovem foi recolhido pelo Instituto Médico Legal (IML).
O caso está agora sob responsabilidade da Delegacia de Polícia Civil de Luís Correia, que investiga a motivação do crime e trabalha para identificar e prender os autores. Informações da comunidade serão fundamentais para avançar nas investigações, embora o clima de medo muitas vezes dificulte o fornecimento de denúncias anônimas.
Violência crescente e controle territorial
Este é mais um episódio que escancara a crescente influência de organizações criminosas no litoral piauiense, especialmente em áreas de vulnerabilidade social. A ausência do Estado, combinada com a presença ostensiva de facções, tem transformado bairros em zonas de domínio paralelo, onde a lei é imposta pelas armas e pelo medo.
Casos como o de Maria Eduarda evidenciam a urgência do reforço das ações de inteligência, policiamento investigativo e presença efetiva das forças de segurança nessas regiões. O enfrentamento às facções precisa ser firme, coordenado e baseado em informação qualificada, para evitar que mais vidas sejam ceifadas por julgamentos à margem da lei.
Redação Clique PI – Imagem: Reprodução