A exaustão profissional, conhecida como síndrome de burnout, não surge de forma repentina. Ela se desenvolve aos poucos, com sinais muitas vezes confundidos com um simples cansaço ou estresse passageiro. A identificação precoce desses sintomas é crucial para evitar impactos sérios na saúde mental e no desempenho profissional.
O que é burnout?
Reconhecida oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019 como um fenômeno ocupacional, o burnout é definido como “uma síndrome resultante do estresse crônico no local de trabalho que não foi adequadamente gerenciado”. Ele se caracteriza por três dimensões principais:
- Sensação de esgotamento ou exaustão;
- Afastamento mental do trabalho ou sentimentos de negativismo relacionados à ocupação;
- Redução da eficácia profissional.
O crescimento do problema no Brasil
Segundo uma pesquisa da International Stress Management Association (ISMA-BR), cerca de 32% dos trabalhadores brasileiros sofrem de burnout, colocando o Brasil entre os países com maior incidência da síndrome. Com a intensificação do trabalho remoto e a pressão por produtividade, esse número tende a crescer.
Um levantamento da plataforma de saúde mental Vittude mostra que mais de 50% dos trabalhadores brasileiros relataram sintomas compatíveis com burnout em 2024, como ansiedade, insônia e falta de motivação.
Sinais que antecedem o colapso
A psicóloga Denise Milk, especialista em saúde mental no ambiente corporativo, explica que o burnout não começa com uma crise, mas com pequenos alertas que frequentemente são ignorados.
“As pessoas costumam associar o burnout a um colapso emocional repentino, mas ele começa de forma silenciosa: dificuldade de concentração, irritabilidade, sensação constante de esgotamento e até sintomas físicos como dores de cabeça e musculares”, afirma.
Ela destaca que a fadiga persistente, mesmo após o descanso, é um dos primeiros sinais. “É como se o corpo não desligasse. Mesmo após um final de semana de descanso, a pessoa volta ao trabalho com a mesma sensação de cansaço e desânimo.”
Outros sintomas incluem:
- Mudanças de humor repentinas;
- Sensação de fracasso ou incapacidade constante;
- Dificuldade para dormir (insônia ou sono não reparador);
- Perda de interesse por atividades antes prazerosas;
- Isolamento social.
Impactos além da saúde
Além dos prejuízos para a saúde mental e física, o burnout compromete diretamente a produtividade, o clima organizacional e os resultados da empresa. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o estresse ocupacional, incluindo o burnout, causa perdas anuais de mais de R$ 200 bilhões na economia brasileira, considerando faltas, afastamentos, baixa produtividade e rotatividade de funcionários.
Como prevenir?
A prevenção é um esforço conjunto entre colaborador e empresa. Denise Milk reforça que práticas simples de autocuidado podem fazer diferença significativa:
- Estabelecer limites claros entre trabalho e vida pessoal;
- Praticar atividades físicas regulares;
- Ter um sono de qualidade;
- Reservar tempo para lazer e hobbies;
- Buscar acompanhamento psicológico preventivo.
No ambiente corporativo, é essencial que as empresas adotem políticas de bem-estar mental:
- Programas de apoio psicológico;
- Flexibilização de jornadas;
- Incentivo à cultura de pausas e descanso;
- Treinamento de líderes para identificação precoce de sinais.
Um problema que pede mais atenção
“Muitas organizações ainda tratam a saúde mental como um tabu, e isso dificulta a criação de estratégias eficazes de prevenção. O burnout não é fraqueza nem frescura: é um problema sério que precisa ser tratado com responsabilidade”, conclui a psicóloga.
Com o aumento dos casos e os impactos crescentes na vida dos trabalhadores e na economia, a conscientização sobre o burnout precisa deixar de ser opcional e se tornar uma prioridade. Identificar os sinais precocemente e agir preventivamente é o primeiro passo para garantir uma vida profissional mais saudável e equilibrada.
Texto: Damata Lucas – Fonte: Pesquisas – Imagem: Freepik