Condenado por estupro coletivo filmado é preso no Maranhão quase nove anos após o crime no Piauí

Foi preso na manhã de sexta-feira (30), na cidade de Zé Doca, no Maranhão, Paulo Henrique Bezerra, condenado por participação em um estupro coletivo filmado, ocorrido em 2016 no município de Sigefredo Pacheco, a 165 km de Teresina. O mandado de prisão definitiva foi expedido pela 1ª Vara da Comarca de Campo Maior e cumprido pela Polícia Civil do Piauí, com apoio da Secretaria de Segurança Pública e da Delegacia Regional de Zé Doca.

Paulo Henrique foi condenado a nove anos de prisão em regime fechado, após ter sido reconhecido como um dos agressores da jovem de 21 anos, que foi abusada sexualmente enquanto estava desacordada. O caso ganhou grande repercussão à época, especialmente porque as imagens do crime foram compartilhadas por aplicativos de mensagens, causando profunda dor e constrangimento à vítima.

Segundo o delegado Carlos Júnior, o crime foi investigado pela Seccional de Campo Maior e envolveu pelo menos cinco homens, que registraram a violência com vídeos e fotos no interior de um carro. A vítima só soube do estupro dias depois, quando uma vizinha a alertou sobre os conteúdos que circulavam nas redes sociais.

A jovem, que havia participado de uma festa na noite do crime, estava desacordada no momento do abuso e foi levada pelos rapazes para casa. Uma amiga contou em depoimento que dois dos homens chegaram a dar banho na vítima e que a deixaram sozinha em casa. Ela também revelou que foi abordada posteriormente por dois dos autores, que ofereceram dinheiro para que a jovem não denunciasse o estupro.

Apesar do choque e da exposição, a vítima decidiu romper o silêncio. O processo, no entanto, enfrentou entraves estruturais: a denúncia foi registrada 11 dias após o crime por falta de escrivão no município, fato que evidenciou a fragilidade do sistema de atendimento às vítimas de violência sexual em cidades do interior.

Um crime covarde e traumático

Casos como este escancaram a perversidade do estupro coletivo — um crime marcado por brutalidade, desumanização e efeito devastador sobre a vítima, tanto físico quanto psicológico e social. Quando filmado e divulgado, o abuso se transforma também em uma violência digital, expondo a vítima a julgamentos, culpabilização e revitimização pública.

Estudos mostram que sobreviventes de estupros coletivos apresentam altos níveis de transtorno de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, isolamento social e tentativas de suicídio. A divulgação das imagens, muitas vezes feitas com o intuito de humilhar ou silenciar, agrava ainda mais esses impactos.

Enfrentamento exige mais que repressão

Especialistas defendem que o combate a esse tipo de crime exige ação conjunta entre repressão qualificada, acolhimento humanizado e prevenção educativa. É fundamental garantir:

  • Delegacias especializadas com estrutura mínima e equipe treinada, especialmente em áreas rurais e cidades pequenas;
  • Campanhas educativas permanentes, que discutam o consentimento, o respeito e o combate à cultura do estupro;
  • Justiça célere e rigorosa, para evitar que criminosos fiquem impunes por anos, como no caso de Paulo Henrique;
  • Proteção digital para impedir e punir com rigor o compartilhamento de imagens de abusos nas redes sociais.

O caso de Sigefredo Pacheco é mais um entre tantos que revelam a necessidade urgente de olhar para a violência sexual como um problema estrutural e não episódico. A prisão de um dos envolvidos é um passo na direção da justiça, mas a verdadeira reparação só virá quando o Estado estiver preparado para proteger as vítimas, punir os agressores e mudar a cultura que ainda silencia e julga mulheres em vez de defendê-las.

Edição: Clique PI – Imagem: Polícia Civil

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