CPMI do INSS: um risco calculado – ou um tiro no pé da oposição?

Por Damata Lucas

A oposição ao governo Lula parece estar entusiasmada com a possibilidade de instalar uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar a fraude bilionária no INSS. O alvo é claro: desgastar ainda mais um governo que já enfrenta dificuldades, com uma aprovação que oscila perigosamente entre o positivo e o negativo, conforme apontam pesquisas recentes. No entanto, será que a oposição calculou bem esse movimento? Ou estaria prestes a dar um tiro no próprio pé?

Primeiro, é preciso contextualizar. As denúncias de descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS não surgiram ontem. Relatórios da Controladoria-Geral da União (CGU) e apurações jornalísticas mostram que essas práticas começaram a ganhar corpo em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro. Empresas e associações passaram a descontar mensalidades e tarifas sem autorização dos beneficiários, abocanhando milhões de reais todos os meses de pessoas vulneráveis. Ou seja, o esquema nasceu — ou ao menos cresceu — sob a gestão bolsonarista, e não apenas agora.

Portanto, ao pressionar por uma CPMI, a oposição corre um risco real: o de abrir um espaço institucional onde não apenas os erros do governo Lula estarão expostos, mas também as falhas e permissividades herdadas do governo Bolsonaro. Num cenário político polarizado, com eleitores ainda fortemente divididos, isso pode criar um efeito bumerangue. A cada denúncia feita contra o governo atual, a base governista poderá retrucar lembrando a origem de muitos problemas durante a gestão passada.

Outro ponto relevante: o INSS tem sido um barril de pólvora há décadas. Defasagem tecnológica, falta de servidores, filas intermináveis e sucessivos escândalos de corrupção formam um terreno fértil para fraudes e desvios. Nenhum governo escapa completamente dessa responsabilidade histórica. Portanto, uma CPMI que pretenda de fato passar a limpo esse setor precisará enfrentar um lamaçal que atinge não só os atuais mandatários, mas também os ex-governantes, incluindo o bolsonarismo que hoje lidera parte significativa da oposição.

Por fim, vale notar o momento político. Lula enfrenta críticas dentro e fora do Congresso, seja pela condução econômica, pela política externa ou por pautas sociais controversas. Uma CPMI poderia se somar a esse desgaste? Sim. Mas também pode gerar uma narrativa de “governo transparente”, disposto a enfrentar irregularidades — desde que o Planalto saiba se posicionar estrategicamente. Do lado da oposição, no entanto, o risco é entrar numa arena onde velhos esqueletos podem ser tirados do armário e expostos à luz do dia, gerando dano político reverso.

No fim das contas, a pergunta central é: quem realmente tem a ganhar com essa CPMI? A resposta não é tão simples quanto parece. E, como a política brasileira já mostrou tantas vezes, quem atira pode acabar acertando o próprio pé.

Imagem: IA

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