Cresce o número de jovens adeptos das religiões de matriz africana, mostra Censo 2022

Maior visibilidade, fortalecimento da identidade racial e resistência à intolerância religiosa impulsionam crescimento entre adeptos da umbanda e do candomblé, sobretudo entre os mais jovens.

Os dados do Censo Demográfico 2022, divulgados recentemente pelo IBGE, revelam um avanço significativo na adesão às religiões de matriz africana, especialmente entre os jovens brasileiros. De 2010 para 2022, a proporção de adeptos da umbanda e do candomblé com idade entre 10 e 24 anos subiu de 21,9% para 25,9%, refletindo um movimento de afirmação identitária e resistência cultural.

Também houve aumento entre a faixa etária intermediária, de 30 a 49 anos, que passou de 35% para 40%. O avanço é visto como reflexo direto de duas décadas de ações públicas e mobilizações sociais para combater a intolerância religiosa e valorizar as tradições afro-brasileiras.

Para o professor Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa, o crescimento é fruto de uma luta coletiva que começou ainda nos anos 2000. “Com o passar do tempo, a luta contra a intolerância e a visibilidade positiva das nossas tradições fizeram com que os jovens se identificassem com as religiões afro, mas não só isso: eles agora saem na rua paramentados com orgulho. Isso é resultado de festivais, caminhadas, atos e ocupações culturais que resistem à perseguição”, afirmou.

A professora Christina Vital, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), compartilha da mesma leitura. Segundo ela, o Censo de 2022 traduz os frutos de campanhas iniciadas há mais de 20 anos.

“Nos anos 2000, os adeptos das religiões afro-brasileiras representavam apenas 0,3% da população. Esse número permaneceu inalterado no Censo de 2010. Ou seja, as campanhas de afirmação e combate ao racismo religioso, que começaram no início do século 21, só agora estão repercutindo nos dados oficiais”, analisa Vital.

Identidade racial e consciência coletiva

Outro dado relevante do levantamento é o perfil racial dos adeptos. Apesar de as religiões afro terem origem na cultura negra, pessoas brancas ainda são maioria entre os umbandistas e candomblecistas (42,7%), seguidas por pessoas pardas (26,3%). Já entre os pentecostais, os pardos lideram com 49,1%.

No entanto, segundo Vital, o dado mais simbólico está no recorte da população preta: 2,3% das pessoas autodeclaradas pretas no Brasil seguem religiões afro-brasileiras, índice que reforça o elo entre identidade racial e religiosidade.

“Há uma consciência racial bastante significativa nesse grupo. Os números deixam isso claro e mostram a importância das campanhas de autodeclaração, de orgulho negro e da valorização das tradições afro-religiosas”, destaca.

Desafios persistem

Mesmo com o avanço, os praticantes da umbanda e do candomblé seguem entre os que mais sofrem com episódios de intolerância religiosa, agressões e criminalização simbólica na sociedade brasileira. Mas, como apontam os especialistas, os números também são uma resposta: mais jovens estão se reconhecendo nas tradições afro, ocupando o espaço público com seus atabaques, suas guias e seus orixás.

É a fé que resiste — e cresce.

Edição: Damata Lucas – Imagem: Fernando Frazão/Agência Brasil

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