Após quase duas semanas de incertezas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o União Brasil chegaram a um acordo para a sucessão no Ministério das Comunicações. A indicação de Frederico de Siqueira Filho, avalizada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP), selou o entendimento. Apesar da solução encontrada, o episódio revela um desgaste crescente entre o Planalto e partidos que, até aqui, eram fundamentais para a sustentação da base no Congresso.
No terceiro ano de mandato e enfrentando a pior crise de popularidade desde que assumiu a Presidência, Lula observa sinais preocupantes no relacionamento com o Centrão. A demora do União Brasil em aceitar um nome para o ministério foi vista com desconforto pelo Planalto, evidenciando o enfraquecimento da influência do governo sobre as siglas de centro-direita. Mais do que isso, reforçou a percepção de que, em um cenário eleitoral cada vez mais próximo, a lógica dos apoios políticos tende a se reorientar para longe do Executivo.
Centrão dividido e de olho em 2026
O distanciamento de partidos do Centrão não é novidade. Desde o início do ano, aumentaram os rumores de que legendas como PSD e União Brasil planejavam reduzir seu envolvimento com o governo Lula. Em parte, por cálculo eleitoral: com a proximidade das eleições de 2026, o custo de se associar a uma gestão impopular pode superar os benefícios de ocupar cargos na Esplanada.
Além disso, a lógica política mudou desde a implantação do chamado “orçamento secreto”, iniciado ainda no governo Bolsonaro. O poder de indicação de emendas parlamentares diretamente pelo Legislativo tornou-se tão ou mais valioso que ministérios, favorecendo uma atuação mais independente dos partidos, focada em suas bases regionais.
Nesse cenário, parte do União Brasil já defende abertamente o rompimento com o governo e a construção de uma candidatura própria para o Planalto em 2026. O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, foi lançado como pré-candidato da legenda e busca se consolidar como uma das opções da direita para a sucessão presidencial.
Pragmatismo em tempos de crise
Apesar do desconforto com o União Brasil, prevaleceu no Planalto a visão pragmática de que, neste momento, é melhor evitar confrontos. Com uma das maiores bancadas na Câmara e no Senado, o partido é peça-chave para aprovar medidas importantes, como a proposta de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais.
A substituição de Pedro Lucas Fernandes por Frederico de Siqueira Filho, realizada sem alarde e a portas fechadas, reflete essa escolha pela conciliação. A prioridade, neste momento, é manter a estabilidade política mínima necessária para a gestão avançar.
Novos desafios no horizonte
A perspectiva de uma federação entre o União Brasil e o Partido Progressistas (PP) pode tornar ainda mais instável a relação com o governo. Tradicional aliado de Jair Bolsonaro, o PP, liderado por Ciro Nogueira (PI), tem se colocado abertamente na oposição a Lula. A união dos dois partidos — que formariam a maior bancada da Câmara — tende a empurrar o União Brasil ainda mais para a direita, tornando difícil imaginar uma convivência duradoura com o governo.
Com 108 deputados e 13 senadores, a nova federação surgiria como uma força decisiva no Congresso e nas eleições de 2026. Para além das alianças de ocasião, o que se desenha é uma reorganização do espaço político: enquanto Lula busca sobreviver politicamente até o fim do mandato, o Centrão já mira o futuro e as possibilidades de poder que dele podem surgir.
Edição: Damata Lucas – Imagem: Ricardo Stuckert