Dança como ferramenta terapêutica: um exercício completo para corpo e mente

A prática regular de atividade física é amplamente reconhecida como um dos pilares para a promoção da saúde e prevenção de doenças. Contudo, nem todos se adaptam bem aos formatos convencionais de exercício, como musculação ou corrida. Nesse contexto, a dança surge como uma alternativa rica, acessível e altamente eficaz. Mais do que uma simples atividade recreativa, a dança reúne benefícios físicos, psicológicos, cognitivos e sociais, tornando-se uma intervenção terapêutica promissora, especialmente para populações vulneráveis, como idosos e pessoas com doenças crônicas.

Uma revisão sistemática de 27 estudos, conduzida por pesquisadores da Universidade de Sydney e publicada na revista científica Sports Medicine, analisou os efeitos da dança estruturada em comparação com outros programas tradicionais de exercícios físicos. A análise envolveu 1.392 participantes e demonstrou que a dança é tão eficaz quanto outras formas de atividade física na promoção da saúde, com vantagens adicionais em aspectos como autoestima, cognição, memória e motivação.

A singularidade da dança: Movimento com propósito

Ao contrário de muitos exercícios repetitivos, a dança agrega elementos únicos: musicalidade, expressividade corporal, coordenação motora, memorização de sequências e interação social. Essa combinação confere à dança uma característica holística, ativando simultaneamente múltiplas áreas do cérebro e favorecendo conexões neurais complexas. Essa estimulação integrada pode explicar os efeitos positivos observados em saúde mental e função cognitiva, especialmente em idosos.

O fisioterapeuta Felipe Cassiano, coordenador multiprofissional do Centro de Reabilitação e Medicina Esportiva do Hospital Israelita Albert Einstein, destaca que a dança integra três dimensões essenciais para o bem-estar: atividade física, aprendizado cognitivo e sociabilidade. “Muitos pacientes apresentam resistência ou desmotivação frente a programas tradicionais de exercícios. A dança, por ser lúdica e envolvente, representa uma alternativa eficaz e mais atrativa, com grande potencial de adesão”, afirma.

A dança como terapia no Parkinson e outras condições

Dentre as descobertas mais relevantes da revisão australiana está a aplicação da dança no tratamento de pessoas com doença de Parkinson. Estudos mostram que, quando adaptada às limitações motoras dos pacientes, a dança pode melhorar significativamente a mobilidade, o equilíbrio e a coordenação motora. Mais do que ganhos físicos, os benefícios se estendem ao campo emocional e psicológico, com redução da ansiedade e sintomas depressivos.

Esse impacto positivo decorre da ativação simultânea de estímulos cognitivos e motores em um ambiente prazeroso, reforçado pela música e pela interação social. Além disso, o aspecto rítmico e repetitivo da dança ajuda a regular o sistema nervoso central, promovendo foco, relaxamento e controle dos movimentos.

O valor da interação social e do pertencimento

A dança estruturada, quando realizada em grupo, proporciona um espaço de convivência que vai além do exercício físico. A socialização promovida por essas atividades tem um efeito direto sobre a saúde mental, especialmente em pessoas idosas, muitas vezes afetadas por solidão e isolamento. O contato humano, o trabalho em parceria e a sensação de pertencimento fortalecem as redes de apoio emocional, reduzindo o risco de depressão, ansiedade e declínio cognitivo.

Cassiano enfatiza a importância dessa dimensão: “Atividades em grupo como a dança criam um senso de responsabilidade mútua, fortalecem o propósito e proporcionam relaxamento por meio do ritmo e do movimento. Isso é essencial em qualquer estratégia de promoção de saúde mental”.

Uma nova perspectiva para a saúde pública

Com base nos achados científicos, é possível vislumbrar uma transformação nas abordagens tradicionais da promoção da saúde. Ao incorporar atividades criativas como a dança em programas terapêuticos e estratégias de saúde pública, amplia-se o alcance das intervenções, tornando-as mais inclusivas e sustentáveis.

Essa abordagem é especialmente relevante em um cenário de envelhecimento populacional e aumento das doenças crônicas. A dança, ao integrar elementos de prazer, arte, movimento e socialização, representa uma forma acessível e poderosa de melhorar a qualidade de vida e a autonomia funcional de diferentes públicos.

Conclusão

A dança é, portanto, muito mais do que expressão corporal – é uma forma de cuidado com o corpo e a mente, com respaldo científico e potencial transformador. Seja como ferramenta de reabilitação, exercício físico ou meio de integração social, ela se revela uma poderosa aliada da saúde integral. Cabe aos profissionais de saúde e gestores públicos reconhecerem esse valor e incorporarem práticas como essa em seus modelos de atenção, promovendo bem-estar de forma mais humana, divertida e efetiva.

Edição: Damata Lucas – Imagem: IA Freepik

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