Diabetes tipo 5: IDF reconhece oficialmente nova forma da doença associada à desnutrição

Por Damata Lucas

Durante o Congresso Mundial de Diabetes, realizado entre os dias 7 e 10 de abril em Bangkok, na Tailândia, a Federação Internacional de Diabetes (IDF, na sigla em inglês) oficializou a existência de uma nova categoria da doença: o diabetes tipo 5. Diferente das formas mais conhecidas — tipos 1, 2 e 3c — essa nova variante está diretamente relacionada à desnutrição crônica, especialmente em populações vulneráveis de países da Ásia e da África.

Embora o diabetes tipo 5 tenha sido descrito pela primeira vez há quase 70 anos, ele permaneceu por décadas à margem do debate científico e clínico, sendo frequentemente confundido com o tipo 1. A nova classificação representa um marco importante para o reconhecimento, diagnóstico e tratamento adequado dessa condição, que atinge entre 20 milhões e 25 milhões de pessoas no mundo, de acordo com estimativas da IDF.

Um diabetes diferente dos outros

O diabetes tipo 5 acomete principalmente pessoas muito magras, com deficiências nutricionais severas, geralmente do sexo masculino e residentes de áreas rurais. Segundo a IDF, os pacientes diagnosticados com essa forma da doença possuem, em média, índice de massa corporal (IMC) inferior a 19 e manifestam os primeiros sintomas ainda jovens, geralmente antes dos 30 anos.

Ao contrário do tipo 2 — que está associado ao excesso de peso, alimentação inadequada e sedentarismo —, o tipo 5 surge como consequência da desnutrição, especialmente em fases críticas como a gestação e a primeira infância. “É uma condição ligada à formação deficiente das células beta pancreáticas, que são responsáveis pela produção de insulina”, explica o endocrinologista Fernando Valente, diretor da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) e professor da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), em São Paulo.

Essa deficiência celular reduz a capacidade de produção de insulina — hormônio essencial para o controle da glicose no sangue —, mas não a elimina completamente, como ocorre no diabetes tipo 1, de origem autoimune.

Como diferenciar o tipo 5 do tipo 1?

A semelhança clínica entre os tipos 1 e 5 contribuiu por décadas para diagnósticos imprecisos. Ambos ocorrem em pacientes jovens e magros, mas a origem e os mecanismos da doença são distintos. O diabetes tipo 1 é caracterizado por uma reação autoimune que destrói rapidamente as células produtoras de insulina. Já o tipo 5 tem origem metabólica e nutricional, resultando em uma produção parcial de insulina, insuficiente para controlar a glicemia, mas suficiente para evitar quadros graves como a cetoacidose diabética — comum e potencialmente fatal no tipo 1.

Dois exames laboratoriais são fundamentais para diferenciar essas condições:

  • Dosagem de anticorpos contra o pâncreas: positivos no tipo 1, ausentes no tipo 5.
  • Peptídeo C: marcador da produção endógena de insulina, geralmente indetectável no tipo 1 e ainda presente, embora em baixos níveis, no tipo 5.

Brasil pode ter casos não diagnosticados

Ainda não existem dados oficiais sobre a prevalência do diabetes tipo 5 no Brasil. No entanto, especialistas alertam para a possibilidade de subnotificação. “É provável que muitos casos estejam sendo erroneamente classificados como tipo 1, especialmente entre populações em situação de vulnerabilidade social”, afirma Valente.

O endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, reforça a necessidade de ampliar o conhecimento sobre essa nova classificação. “O Brasil ainda tem pouca experiência clínica com o tipo 5, mas sabemos que a simples administração de insulina não é suficiente. É necessário tratar a desnutrição de base”, destaca.

Tratamento: mais que insulina, nutrição adequada

O manejo do diabetes tipo 5 requer uma abordagem multidisciplinar, que vai além da reposição de insulina. A reestruturação nutricional do paciente é essencial e inclui:

  • Suplementação de proteínas e carboidratos de boa qualidade;
  • Reposição de micronutrientes essenciais, como ferro, zinco, magnésio e vitaminas do complexo B;
  • Correção de eletrólitos e manutenção da hidratação;
  • Acompanhamento contínuo por equipe especializada, incluindo médicos, nutricionistas e assistentes sociais.

“O tratamento precisa atacar a causa raiz, que é a carência nutricional severa, muitas vezes iniciada ainda no útero materno”, explica Rosenbaum.

Próximos passos da IDF

A IDF anunciou a criação de um grupo de trabalho internacional que, nos próximos dois anos, será responsável por desenvolver diretrizes clínicas específicas para o diagnóstico e tratamento do diabetes tipo 5. A meta é padronizar protocolos e capacitar profissionais de saúde em todo o mundo para identificar e cuidar adequadamente dos pacientes com essa condição.

“A nova classificação vem para alertar os médicos, pesquisadores e governos sobre um tipo de diabetes que foi negligenciado por décadas. Agora, é hora de aprender com esses dados e desenvolver políticas de saúde pública que alcancem essa população tão vulnerável”, conclui Rosenbaum.

Imagem: Freepik

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