Em Lisboa, europeus esbarram na “difícil gramática” do português

A holandesa Hazina Oussoren chegou a Lisboa no verão de 2024. Juntamente com o namorado, começaram a aprender português mesmo antes de chegar a Portugal, através de aulas online. Queriam mudar de vida e escolheram Lisboa para uma nova experiência de vida e aprender a língua do país era essencial para as tarefas do dia-a-dia.

Mas o desejo de Hazina em aprender português ultrapassa as necessidades do quotidiano. Escritora de profissão, olha com fascínio para a Literatura Portuguesa.

“Eu acho que a história literária em Portugal é tão rica. E eu a vejo em todos os lugares. Eu vejo poesias em todos os lugares. Mas eu amo a poesia. E eu amo a literatura portuguesa”, conta à ONU News.

A poesia como ponte para o português

Foi através da poesia de Florbela Espanca que Hazina encontrou um método de aprendizagem. “Ajuda a entender o ritmo do português. Acho que as poesias são boas, de qualquer forma.”

O sonho é, um dia, ler autores como José Saramago e Fernando Pessoa na língua original. Por agora, aposta em livros infantis.

Ainda é cedo para ler Pessoa

“Vou ler Pessoa, mas não agora. É um pouco intimidante, mas eu vou chegar lá. Estou a ler muitos livros para crianças que eu li já quando era criança”, explica.

Na sua rotina, recorre também à internet para alargar vocabulário: “Eu deixo o site em português para aprender as palavras”.

Desafios na aprendizagem

Nem tudo tem sido fácil. Hazina refere que a compreensão oral é particularmente exigente: “As pessoas não falam todas as letras. Isso é difícil.”

Além disso, a gramática apresenta-se como um obstáculo maior. 
“A gramática é difícil para mim porque é tão diferente.”

Alan e prática diária

Alan Thomson, natural de Glasgow, é outro exemplo de quem escolheu Lisboa para iniciar uma nova etapa de vida. Chegou à capital portuguesa em 2020, depois do Brexit, com a namorada que é portuguesa. Antes de se mudar, tinha algum conhecimento básico de português, mas foi em Lisboa que começou a levar a aprendizagem mais a sério.

“Eu disse para toda a gente: ‘eu preciso de falar, eu preciso de praticar. Então, não falamos nenhum inglês, é só português’”, recorda Alan sobre a sua decisão de evitar o inglês, como forma de aprendizagem.

Alan sublinha também a importância de dominar o português para se integrar na vizinhança e resolver situações do quotidiano. “A dona Salomé, a vizinha do lado, não fala nada de inglês. Então, eu preciso de aprender.”

O desafio do subjuntivo

A maior luta do escocês, no entanto, tem sido com a gramática. “O conjuntivo não existe em inglês. Então, pensar nisso… não faz nenhum sentido para mim”.

Apesar das dificuldades, Alan tem uma visão positiva sobre a aprendizagem e destaca que a pronúncia do português não lhe causou grandes dificuldades, já que o escocês tem sons similares ao português.

Quanto ao vocabulário, Alan destaca com humor uma das palavras favoritas: “Fofoca é muito bom… já contei aos meus amigos na Escócia.” E, em tom de brincadeira, acrescentou o duelo linguístico: “Gossip é bom, mas fofoca ganha.”

Língua falada por 285 milhões

A língua portuguesa é falada por mais de 285 milhões de pessoas em todo o mundo, sendo a quarta língua materna mais falada no planeta. É a língua oficial em nove países, incluindo Portugal, Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste e Guiné-Equatorial.

Para a presidente do Instituto Camões, a língua portuguesa tem vindo a ganhar terreno em todo o mundo, com a instituição a ter um papel fundamental na promoção do idioma, apoiando o ensino e o desenvolvimento de projetos culturais e educativos.

Florbela Paraíba destaca o trabalho do Instituto Camões em promover o ensino do português

ONU News/Sara de Melo Rocha

Florbela Paraíba destaca o trabalho do Instituto Camões em promover o ensino do português

Português como língua de oportunidades globais

Florbela Paraíba destaca o trabalho do Instituto Camões em promover o ensino do português através de 63 cátedras e 86 centros de língua portuguesa em diversos países.

Atualmente, o português é língua curricular em 35 países, para além dos países de língua oficial portuguesa. Além disso, ensina-se português em 76 países, graças ao trabalho do Instituto Camões.

A diplomata defende que o Dia Mundial da Língua Portuguesa, celebrado a 5 de maio pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, Unesco, é uma excelente oportunidade para refletirmos sobre o impacto da língua e o seu papel global.

Língua pluricêntrica e pluricontinental

“O português é uma língua pluricêntrica, pluricontinental, multicultural. A nossa língua tem muitos polos de desenvolvimento, e isso faz com que haja um interesse crescente por parte de públicos de todo o mundo”, afirma Florbela à ONU News.

Além do ensino presencial, que considera essencial, Florbela Paraíba destaca também as novas formas de ensino do português, com os cursos online que permitem que qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, possa aprender a língua.

Língua de oportunidades

Para Florbela Paraíba, o português não é só uma língua de comunicação, mas também uma língua de oportunidades. “A promoção do português é uma prioridade, pois o seu domínio abre portas em vários sectores, desde o académico ao profissional.”

No domínio tecnológico, a presidente do Instituto Camões mostra-se empenhada em acompanhar as transformações digitais. Reconhece que “é muito importante pensar como vamos projetar a língua no espaço digital, seja agregando ao ensino da língua portuguesa toda a dimensão de inteligência artificial que é preciso nós fazermos e pensarmos como vamos fazer”. 

Fonte: ONU News – Imagem: ONU News/Leda Letra

Notícias recentes

Notícias em alta

Com notícias do Piauí, do Brasil e do Mundo!

©2024- Todos os direitos reservados. Clique Pi