Entre o colapso e a esperança: juventude, cura do HIV, saúde e resistência em 2025

O mundo vive sob tensão. Segundo o relatório State of the Global Workplace 2024, da Gallup, 41% da população global enfrenta níveis alarmantes de estresse. A juventude, em particular, aparece no topo das estatísticas de ansiedade e esgotamento emocional. Não é difícil entender por quê: o planeta enfrenta crises econômicas em cascata, um colapso ambiental cada vez mais tangível e uma sensação coletiva de impotência frente a instituições frágeis e respostas públicas insuficientes.

Mas o que acontece quando uma geração inteira perde a capacidade de imaginar o futuro?

Essa é a pergunta que paira como nuvem pesada sobre 2025 — um ano em que, mesmo diante do cansaço, lampejos de resistência e reinvenção ainda brotam em diferentes cantos do mundo. Entre avanços científicos, mobilizações sociais e vozes historicamente silenciadas que agora ocupam o centro do debate, é possível perceber que o desejo por um amanhã melhor ainda resiste — mesmo que na contramão do caos.

A ciência como semente de futuro: a promessa de uma cura para o HIV

Na Austrália, uma equipe de cientistas deu um passo crucial rumo a uma possível cura do HIV. Utilizando uma versão inovadora da tecnologia de mRNA — a mesma que revolucionou o combate à Covid-19 —, os pesquisadores desenvolveram nanopartículas LNP X capazes de “acordar” células do sistema imunológico e expor o vírus latente. Trata-se de um dos grandes desafios históricos da medicina no enfrentamento do HIV: detectar e eliminar o vírus que permanece escondido, mesmo em pacientes em tratamento.

“É como acender um interruptor no escuro”, explicou a dra. Paula Cevaal, do instituto responsável pela pesquisa. Os resultados em laboratório, com células de pacientes, são animadores e colocam o projeto entre os mais promissores da atualidade. Testes em animais já estão programados, e há expectativa para estudos clínicos em humanos nos próximos anos. Ainda não é uma cura definitiva — mas é, sem dúvida, um marco no caminho rumo a ela.

Brasil: onde o ativismo resiste e reimagina o cuidado

Enquanto a ciência avança, a realidade brasileira segue marcada por contrastes profundos. Jovens ainda convivem com a desesperança, agravada pela precarização da vida, racismo estrutural, LGBTI+fobia e negligência institucional. Mas também aqui surgem resistências potentes.

A ONG Impulse Rio, braço nacional da rede global Impulse Group em parceria com a AIDS Healthcare Foundation, atua como trincheira de enfrentamento ao estigma e à exclusão. Inspirada nas ações históricas dos Grupos Pela Vidda, a organização liderada por Filipe Stevan atua na linha de frente pela promoção de saúde, cidadania e pertencimento para populações vulnerabilizadas — especialmente pessoas LGBTI+ vivendo com HIV.

Falar de HIV em 2025 é, mais do que nunca, falar de projetos de vida. É reivindicar dignidade, memória, e políticas públicas que coloquem o afeto no centro do cuidado.

Vozes que gritam por justiça: política, saúde e dignidade trans

Referência no ativismo trans no Brasil e no exterior, Neon Cunha emocionou o público do Festival LED 2025 no Rio de Janeiro ao lado de figuras como Conceição Evaristo, MC Soffia e Ana Paula Xongani. Mais de uma década depois de ter pedido legalmente a morte assistida — diante de um Brasil que negava sua existência — Neon reafirma hoje que a resistência é também um ato de fé no futuro.

Ao lado dela, outras vozes também ganham corpo na luta institucional. A deputada federal Duda Salabert, professora e mulher trans, tem atuado com firmeza em Brasília denunciando a exclusão do Brasil da distribuição do Lenacapavir — uma injeção semestral para prevenção do HIV que representa um avanço histórico na saúde pública global. Apesar da participação de pacientes brasileiros em testes clínicos, o país ficou de fora da primeira leva de distribuição da medicação.

Duda foi clara:

“A saúde pública tem que estar acima dos lucros privados. O governo brasileiro precisa entrar de forma firme nas negociações por preços justos. Essa tecnologia pode salvar vidas.”

O que está em jogo é soberania. É o compromisso com quem sempre esteve à margem. É um chamado à responsabilidade ética e política em tempos de emergência permanente.

Esperançar como verbo político

Mesmo em meio à fadiga existencial que domina as conversas e atravessa gerações, há quem ainda insista em semear futuro. Em laboratórios que ousam sonhar. Em ONGs que resistem nos subúrbios e nas periferias. Em corpos trans que ocupam a política institucional com coragem e lucidez. Há quem siga lembrando: existir é resistir — e resistir também é reinventar a esperança.

Neste 2025, tão cheio de contrastes, que o amanhã nos encontre mais vivos, mais lúcidos — e menos sós.

Redação Clique PI (Damata Lucas) – Imagem: Reprodução

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