Por Damata Lucas
A série Adolescência, da Netflix, mergulha fundo nos dilemas da juventude contemporânea, abordando temas como bullying, redes sociais, sexualidade e identidade. Em meio a tantas camadas, um termo em particular começa a ganhar destaque nos fóruns de discussão sobre a série: Incel.
Mas, afinal, o que significa essa palavra que soa tão estranha — e por que ela importa tanto hoje?
O que é “Incel”?
“Incel” é a abreviação de involuntary celibate — celibatário involuntário. O termo surgiu na internet nos anos 1990 como uma forma neutra de descrever pessoas (de qualquer gênero) que tinham dificuldades em encontrar relacionamentos afetivos ou sexuais. Mas, ao longo dos anos, ele foi cooptado por comunidades misóginas online.
Hoje, o termo é geralmente associado a homens heterossexuais que se sentem rejeitados pelas mulheres e que, em fóruns como 4chan e Reddit, muitas vezes transformam essa frustração em ódio, alimentando discursos de violência, misoginia e ressentimento social.
Incel e a adolescência: uma combinação perigosa
A adolescência é um período marcado por inseguranças, descobertas e uma busca intensa por pertencimento. É também a fase em que muitos jovens entram em contato com comunidades virtuais que podem parecer acolhedoras à primeira vista, mas que escondem discursos tóxicos por trás.
É nesse ponto que Adolescência, a série, acerta em cheio. Ao retratar jovens enfrentando a solidão, a pressão estética, o culto ao desempenho sexual e a comparação constante nas redes sociais, a série ajuda a entender como o sentimento de inadequação pode virar raiva — e como essa raiva pode ser capturada por discursos como o dos incels.
O Incel na ficção: estereótipo ou alerta?
Embora a série Adolescência ainda não tenha um personagem explicitamente identificado como “incel”, o arquétipo está presente: o garoto retraído, frustrado com a própria aparência, invisível socialmente e que começa a se revoltar contra o mundo ao seu redor.
A discussão que a série provoca é importante: quando essa narrativa é usada apenas como um vilão caricato, perdemos a chance de compreender as origens desse fenômeno. Mas quando ela é tratada com profundidade — como a série tenta fazer em alguns episódios —, abre-se espaço para diálogos sobre saúde mental, masculinidade tóxica e o poder das redes sociais na formação de identidades juvenis.
Por que falar sobre isso?
O termo “incel” pode parecer distante da realidade da maioria dos adolescentes, mas suas ideias circulam com mais frequência do que se imagina — em piadas, em memes, em discursos aparentemente inofensivos sobre “fracassos amorosos” ou “mulheres interesseiras”.
Falar sobre incels é, na verdade, falar sobre afeto, frustração, autoestima e pertencimento. É entender como os jovens estão lidando com um mundo hiperconectado e, ao mesmo tempo, extremamente solitário.
E é exatamente isso que Adolescência propõe: olhar sem filtros para as dores de crescer em um mundo onde tudo parece estar sempre sob julgamento.
Imagem: IA