Juíza se afasta de caso envolvendo vereadora acusada de integrar facção e nova magistrada assume processo no TRE-PI

O presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI), desembargador Sebastião Ribeiro Martins, designou a juíza Júnia Maria Bezerra Feitosa Fialho, da 1ª Zona Eleitoral de Teresina, para assumir a condução do processo que envolve a vereadora Tatiana Medeiros (PSD), presa preventivamente desde o dia 3 de abril. Ela é acusada de envolvimento com facção criminosa, compra de votos, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e prática do chamado crime de rachadinha.

A nova designação ocorre após a juíza Gláucia Mendes de Macêdo, da 98ª Zona Eleitoral, comunicar seu afastamento do caso por “motivos de foro íntimo”. Antes de deixar o processo, a magistrada determinou o prazo de 10 dias para que Tatiana e outros oito denunciados apresentem suas defesas, em preparação para a audiência de instrução e julgamento.

Na decisão, Gláucia Macêdo ressaltou que a denúncia traz “narrativa robusta sobre a existência de uma estrutura hierarquizada e funcional da qual os acusados não apenas faziam parte, mas atuavam como protagonistas da articulação criminosa, coordenando ações, repassando valores, aliciando eleitores e instrumentalizando programas sociais com a finalidade eleitoral.”

A magistrada confirmou a legalidade das prisões preventivas e determinou que a decisão fosse comunicada à Receita Federal, à Câmara Municipal de Teresina, à Procuradoria da República no Piauí e ao Ministério Público Estadual, por meio do Núcleo das Promotorias de Justiça de Defesa do Patrimônio Público.

O presidente do TRE-PI destacou que “todo juiz tem plena autonomia funcional para conduzir um processo, decidindo de acordo com a prova dos autos e a sua própria consciência”.


Histórico do caso: compra de votos, facção e lavagem de dinheiro

A investigação que levou à prisão da vereadora Tatiana Medeiros é conduzida pela Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público Eleitoral. As apurações revelam um esquema sofisticado de compra de votos, financiado com recursos de origem ilícita, operado por meio do Instituto Vamos Juntos — fundado pela parlamentar e atualmente com atividades suspensas por decisão judicial.

Durante operação de busca e apreensão na sede da entidade, a PF encontrou documentos contendo listas de eleitores, anotações sobre repasses de dinheiro e um relatório intitulado “Relatório Votos Válidos”, com registros de transferências via Pix para lideranças comunitárias e eleitores. Informações apagadas de aparelhos eletrônicos de Tatiana também foram recuperadas por peritos federais.

Além da vereadora, estão entre os indiciados seu namorado, Alandilson Cardoso, preso em Minas Gerais, e o padrasto, Stênio Ferreira Santos, apontado como o principal operador financeiro do esquema. De acordo com a PF, Stênio atuava como intermediador nos pagamentos ilegais e teria movimentado recursos suspeitos com o objetivo de assegurar votos para a então candidata.

Interceptações telefônicas e trocas de mensagens reforçam o vínculo entre os envolvidos e o uso da ONG como fachada para o esquema de corrupção eleitoral. Em um dos áudios captados pela investigação, Alandilson Cardoso chega a afirmar que investiu R$ 1 milhão na campanha da vereadora e faz alusão à existência de uma representante de facção criminosa dentro da Câmara Municipal de Teresina.

A compra de votos, segundo a PF, era feita por meio de transferências de R$ 100 via Pix, com envolvimento direto de familiares e aliados políticos de Tatiana. A Justiça avalia ainda a existência de ramificações do esquema que podem ter beneficiado outras candidaturas no mesmo grupo político.


Próximos passos

Com a nova juíza à frente do caso, o TRE-PI deve retomar a instrução processual nos próximos dias. A expectativa é que a audiência de instrução e julgamento seja marcada assim que todas as defesas forem apresentadas.

Tatiana Medeiros permanece presa, enquanto o processo avança em meio a fortes indícios de corrupção eleitoral, lavagem de dinheiro e envolvimento com organização criminosa. O caso segue em segredo de justiça, mas a repercussão já mobiliza autoridades dos três níveis do sistema de Justiça.

Redação Clique PI – Imagem: Reprodução

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