As polêmicas em torno da ex-deputada federal Flordelis dos Santos ganharam novos contornos com revelações recentes que voltaram a chocar a opinião pública. Condenada pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, Flordelis agora é apontada como a figura central de um ambiente familiar marcado por abusos sexuais, manipulação psicológica e práticas de incesto.
As informações vieram à tona durante uma entrevista da psiquiatra Ana Beatriz Barbosa ao podcast Inteligência Ltda., onde foram detalhados aspectos perturbadores da rotina dentro da casa da ex-parlamentar. Segundo a médica, o ambiente comandado por Flordelis se assemelhava a uma verdadeira seita, com divisões hierárquicas rígidas, rituais de iniciação e forte controle emocional sobre os filhos — muitos deles adotivos ou sob sua guarda informal.
Uma estrutura familiar marcada pelo abuso
De acordo com Ana Beatriz Barbosa, os filhos viviam organizados por categorias, com diferentes níveis de acesso à alimentação e privilégios. “A casa era dividida em categorias 1, 2 e 3”, explicou. “Os de nível 1, por exemplo — que seriam os ‘adotados’, entre aspas, porque alguns foram sequestrados ou retirados sem legalização —, tinham direito apenas a pão e água.”
O acesso a melhores condições de vida vinha mediante a participação em rituais chocantes. Segundo a psiquiatra, meninos precisavam manter relações sexuais com Flordelis para alcançar o mais alto nível dentro da casa. “Para passar para o terceiro nível, tinha um ritual. Se fosse menino, tinha que transar com ela.”
Testemunhos que reforçam os horrores
Durante o processo judicial que culminou na condenação de Flordelis, diversos testemunhos já apontavam para um cotidiano de abusos e imposições religiosas. A delegada Bárbara Lomba, que comandou a investigação, confirmou que tanto Flordelis quanto Anderson do Carmo mantinham relações sexuais com alguns filhos, o que viola frontalmente os princípios da adoção e da tutela legal.
Em um dos relatos mais fortes, uma testemunha que viveu na residência nos anos 1990 relatou rituais envolvendo sangue, nudez e práticas sexuais forçadas. “Era uma verdadeira seita”, afirmou, descrevendo uma estrutura controladora onde os filhos eram impedidos de questionar ou se rebelar contra a matriarca.
Um sistema de poder fundamentado na fé
As investigações revelaram que Flordelis utilizava a religião como principal ferramenta de manipulação e dominação. Apresentada publicamente como missionária e mulher de fé, ela mantinha internamente uma dinâmica autoritária e opressora, onde a espiritualidade era usada para justificar abusos e silenciar vítimas.
Esse sistema se perpetuava pelo medo e pela dependência. Muitos dos jovens acolhidos por Flordelis vinham de situações de extrema vulnerabilidade social, o que tornava ainda mais difícil romper o ciclo de violência e denunciar as práticas dentro da casa.
Relembre o crime que deu início à queda
O caso Flordelis veio a público de forma mais ampla após o assassinato do pastor Anderson do Carmo, em junho de 2019, em Niterói (RJ). Inicialmente tratado como latrocínio, o crime foi desvendado como homicídio encomendado pela própria esposa, com o envolvimento direto de filhos e outros membros da família.
Em 2021, Flordelis teve o mandato de deputada cassado e foi presa preventivamente. No ano seguinte, foi condenada a 50 anos e 28 dias de prisão em regime fechado. As investigações revelaram ainda tentativas de envenenamento, manipulação de testemunhas e ameaças internas na tentativa de obstruir a Justiça.
Os principais elementos revelados até agora
A partir dos depoimentos colhidos ao longo do processo e das novas informações trazidas por especialistas e testemunhas, surgem os seguintes pontos centrais:
- Relações sexuais entre Flordelis, Anderson e filhos adotivos;
- Divisão da casa em categorias com privilégios diferenciados;
- Rituais de ascensão baseados em relações sexuais com a matriarca;
- Práticas secretas envolvendo sangue e nudez;
- Uso da fé como mecanismo de coerção e manipulação;
- Controle psicológico severo que impedia denúncias e reforçava o ciclo de abusos.
Uma imagem pública que contrasta com os bastidores
Flordelis, por muitos anos, foi vista como símbolo de caridade, fé e superação, recebendo reconhecimento político e religioso por seu trabalho com jovens em situação de risco. Porém, o desdobramento do caso revelou uma realidade brutal por trás da fachada construída ao longo de décadas.
As novas denúncias reacendem o debate sobre o uso indevido da fé para fins pessoais e os perigos da centralização de poder em líderes religiosos sem fiscalização adequada. A história de Flordelis é, ao mesmo tempo, uma tragédia familiar e um alerta social sobre os limites entre fé, abuso e impunidade.
Redação Clique PI – Imagem: Fernando Frazão