Por Damata Lucas
Em um ano pré-eleitoral, quando o debate político deveria estar centrado em propostas, avanços e desafios, o Brasil volta a assistir a um roteiro já conhecido: institutos de pesquisa ligados ao mercado financeiro divulgando, de forma sistemática, levantamentos que colocam o governo Lula em xeque diante da opinião pública — mesmo diante de indicadores sociais e econômicos que mostram um país em recuperação.
A economia dá sinais positivos: o desemprego caiu para o menor patamar desde 2015, com mais de 1,5 milhão de novos postos formais criados nos últimos 12 meses; a renda média do trabalhador cresceu; os concursos públicos voltaram com força; e os programas de transferência de renda não só foram ampliados como passaram a beneficiar também estudantes do ensino médio. Mesmo assim, parte significativa da população diz não sentir os efeitos dessas políticas. E mais: atribui ao governo atual problemas herdados da gestão anterior, como as fraudes no INSS, escancaradas e combatidas somente agora.
Pesquisas enviesadas e interesses financeiros por trás dos números
É impossível ignorar que muitos dos levantamentos de opinião divulgados com alarde na grande mídia são financiados por bancos, corretoras e agentes do mercado financeiro — os mesmos que se beneficiaram com as políticas neoliberais do governo Bolsonaro e que agora se veem diante de um governo que restabelece o papel do Estado como indutor do desenvolvimento e da justiça social.
Institutos como a Quaest, frequentemente contratados por gestoras como a Genial Investimentos, divulgam dados que, além de negativos para o governo, carecem de contextualização. Quando a mesma pesquisa revela que 31% da população responsabiliza Lula pelas fraudes no INSS — mesmo sendo público e notório que o esquema foi montado e turbinado durante o governo Bolsonaro —, fica evidente que há mais do que desinformação: há manipulação.
Esses levantamentos são depois amplificados, sem qualquer contraponto crítico, pela grande mídia brasileira, historicamente alinhada à direita e à extrema-direita. O ciclo se repete: a pesquisa orientada por interesses de mercado produz um dado enviesado, que é reproduzido em horário nobre e vira “verdade” para milhões de brasileiros.
O governo acerta nas políticas, mas erra na comunicação
Enquanto isso, o governo Lula permanece, em muitos momentos, inerte no campo da comunicação. As ações concretas e transformadoras em áreas como saúde, assistência social, habitação, cultura e educação raramente ganham o mesmo espaço que as manchetes negativas oriundas de pesquisas suspeitas.
A ausência de uma política de comunicação mais estratégica e combativa permite que narrativas distorcidas se consolidem. O governo precisa falar com clareza, de forma didática e constante, com a população. Precisa mostrar que foi ele quem retomou obras paradas, que reestruturou o Mais Médicos, que criou novos campi de universidades, que colocou comida na mesa do povo novamente e que está combatendo de frente as fraudes que o governo anterior fingiu não ver.
A urgência de enfrentar o bombardeio midiático
Não se trata apenas de melhorar a comunicação institucional. Trata-se de enfrentar um sistema articulado que opera para minar a credibilidade de governos populares e preparar o terreno para a volta de um projeto ultraliberal, centrado na austeridade e na concentração de renda.
A experiência histórica mostra que, quando políticas públicas voltadas à maioria são colocadas em prática, o sistema reage. E uma de suas armas mais eficazes é o controle da narrativa via pesquisas enviesadas e cobertura jornalística tendenciosa.
É urgente que o governo Lula compreenda a profundidade desse embate e reaja à altura. Não com propaganda vazia, mas com uma comunicação transparente, assertiva e popular — que mostre ao povo brasileiro onde estamos, de onde viemos e para onde podemos ir, caso esse ciclo perverso de manipulação continue prevalecendo.
Imagem: Reprodução IA