O silêncio que grita: a saúde mental dos adolescentes em crise

Sinais como isolamento, mudanças de humor e queda no rendimento escolar podem ser alertas de sofrimento psíquico; especialistas alertam para a urgência de diálogo e acolhimento.

Por Damata Lucas

Nos corredores das escolas e nos grupos de WhatsApp, uma realidade silenciosa cresce: o sofrimento mental dos adolescentes. Ansiedade, depressão, automutilação e até ideias suicidas têm se tornado cada vez mais comuns entre jovens de 12 a 18 anos. E o mais preocupante é que muitos pais, professores e colegas ainda não sabem identificar os sinais de que algo está errado.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 16% dos adolescentes entre 10 e 19 anos convivem com algum transtorno mental. No Brasil, o cenário também é alarmante: um levantamento feito pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em 2022 apontou que mais de 60% dos jovens relataram sintomas de ansiedade e 40% apresentaram sintomas de depressão durante a pandemia — números que continuam altos mesmo após a reabertura das escolas.

Os sinais de que a saúde mental de um adolescente está comprometida nem sempre são óbvios. Segundo a psicóloga clínica Juliana Vilar, “muitos jovens não sabem nomear o que sentem, então se expressam por meio de comportamentos como irritabilidade excessiva, isolamento social, distúrbios no sono e na alimentação, ou queda no desempenho escolar”. Em alguns casos, há também automutilação e abuso de substâncias.

Um exemplo marcante é o de Lucas*, 15 anos, que começou a se isolar dos amigos, teve notas drasticamente reduzidas e passou a dormir demais. “A gente achava que era preguiça ou fase de adolescência”, conta a mãe, Ana*. Só depois de uma tentativa de automutilação, a família buscou ajuda profissional. Lucas hoje faz terapia semanal e está em processo de recuperação. “Se tivéssemos percebido antes, talvez ele não tivesse chegado nesse ponto”, diz Ana.

Especialistas ressaltam que o diálogo aberto e o acolhimento sem julgamento são fundamentais para a prevenção e o cuidado com a saúde mental. “Ouvir com empatia é o primeiro passo. Os adolescentes precisam saber que têm com quem contar”, afirma o psiquiatra infantojuvenil Dr. Marcos Lemos.

Apesar dos avanços, o acesso a serviços de saúde mental ainda é limitado. Muitas escolas carecem de psicólogos e as famílias nem sempre têm condições de buscar atendimento privado. Isso reforça a urgência de políticas públicas voltadas para o cuidado emocional de crianças e adolescentes.

Não se trata de “frescura” nem de “falta do que fazer”. O sofrimento psíquico entre os jovens é real e exige atenção imediata. Como sociedade, precisamos parar de ignorar os gritos silenciosos desses adolescentes e começar a escutá-los com seriedade e humanidade.


*Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos envolvidos.

Imagem: IA

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