Por Damata Lucas
Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou, com apoio de sua base no Congresso Nacional, o projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais, além da taxação dos chamados “super-ricos”, um novo capítulo se abriu na batalha entre o governo e setores do mercado financeiro. O projeto, que visa ampliar a justiça fiscal no Brasil e aliviar o peso tributário sobre os mais pobres, encontrou forte resistência — não no Congresso, onde o próprio governo tem minoria, mas nas narrativas que passaram a dominar manchetes e resultados de pesquisas de opinião.
Dois nomes se destacam nessa história: o Instituto Genial Quaest, ligado a banqueiros, e o Datafolha, tradicional instituto da Folha de S. Paulo, presidido por também nome ligado ao setor financeiro. Ambos têm sido protagonistas na divulgação de pesquisas que mostram queda na aprovação do governo Lula, com ênfase crescente na insatisfação da população.
Mas seria essa insatisfação real e espontânea? Ou estaríamos testemunhando uma estratégia coordenada para desestabilizar politicamente um governo que ameaça os interesses da elite financeira?
Pesquisa como ferramenta política
A pesquisa de opinião, quando feita com seriedade, é um instrumento valioso para aferir o sentimento popular. No entanto, quando associada a interesses econômicos ou a grupos que possuem objetivos político-ideológicos, ela pode se tornar uma arma silenciosa — capaz de moldar percepções, influenciar mercados e, principalmente, manipular o imaginário coletivo.
Não é coincidência que os institutos mais críticos ao atual governo estejam ligados a nomes do setor financeiro. O Genial Quaest, por exemplo, nasceu como braço de uma corretora de investimentos. Já o Datafolha, embora mais tradicional, integra um conglomerado de mídia que atua diretamente nos mercados e possui interesses ligados a bancos e grandes grupos econômicos.
A pergunta que se impõe é: qual o impacto dessas pesquisas sobre o humor da opinião pública e, sobretudo, sobre a atuação do próprio governo?
Política econômica versus interesses do mercado
O pacote de medidas econômicas do governo Lula, especialmente a taxação dos super-ricos e os benefícios para a população de baixa renda — como a isenção do IR e a isenção de ICMS para a cesta básica — representa uma clara redistribuição de recursos. A proposta de um sistema tributário mais justo coloca o governo em rota de colisão com os setores privilegiados da economia.
Não é surpresa, portanto, que medidas populares, como a redução do custo de alimentos, não ganhem o mesmo destaque na imprensa tradicional — controlada por famílias e grupos com fortes laços com o capital financeiro.
A Rede Globo, em parceria com a Folha de S. Paulo e outros veículos tradicionais, vem reproduzindo com frequência as narrativas negativas sobre o governo federal, dando amplo espaço para resultados de pesquisas que indicam queda na popularidade presidencial. Há quem veja nisso não uma mera cobertura jornalística, mas um movimento orquestrado com foco nas eleições de 2026, quando Lula (ou seu sucessor político) enfrentará novos desafios nas urnas.
A influência do mercado na política
O mercado financeiro no Brasil sempre teve papel central nas decisões políticas. A própria política monetária do Banco Central, hoje autônomo, tem sido criticada por manter juros altos que inibem o crescimento econômico, mesmo diante de índices de inflação controlados.
Empresários do setor bancário têm poder não apenas sobre os rumos da economia, mas também sobre os meios de comunicação, institutos de pesquisa e — por consequência — sobre o próprio jogo político. As pesquisas, nesse contexto, funcionam como termômetro, mas também como termostato: além de medir, ajudam a moldar o clima político.
A narrativa como campo de batalha
Para o governo Lula, o desafio vai além das reformas tributárias ou da reconstrução das políticas públicas: é preciso enfrentar um cerco narrativo construído por agentes que têm interesses contrariados. O poder da informação — e, sobretudo, da desinformação sutil — pode minar conquistas sociais, desmoralizar líderes e enfraquecer projetos de nação.
A batalha não é apenas por votos ou por apoio no Congresso. É uma disputa por corações, mentes e pela verdade dos fatos. Uma verdade muitas vezes distorcida por quem detém o monopólio das vozes que ecoam nas manchetes e nos noticiários.
Não podemos deixar de mencionar a última pesquisa DataFolha, do Grupo Folha, divulgada neste sábado, 5, que dá um ‘alívio’ ao próprio Lula, quando aponta que o petista venceria seus adversários, se as eleições de 2026 fossem hoje, inclusive Jair Bolsonaro, caso o ex-pesidente se livre da inelegibildade. O mesmo fez o Quaest logo após divulgar a ‘derrota’ do atual presidente perante a opinião pública. E veja: Essas pesquisas aí contradizem totalmente a avaliação negativa desses dois institutos em relação ao governo Lula perante a opinião pública. Muito estranho. Há quem se arrisque a afirmar que essa é uma forma de esses institutos tentar passar ‘isenção’. Mas quem acredita nisso? São filmes que se repetem no cenário eleitoral brasileiro eleições a fio.
É urgente que a sociedade brasileira reflita sobre quem financia os discursos que circulam nos grandes veículos de mídia e nas pesquisas de opinião. Transparência nos vínculos entre institutos de pesquisa, mídia e mercado financeiro é essencial para preservar a democracia e garantir que o debate público não seja sequestrado por interesses privados.
O Brasil precisa de uma imprensa livre — mas também de uma imprensa que seja livre dos interesses do capital financeiro. Só assim será possível construir uma democracia onde a vontade popular não seja manipulada, mas respeitada.