Após dois dias de julgamento, o empresário Paulo Cupertino Matias foi condenado nesta sexta-feira (30) a 98 anos de prisão em regime fechado pelo assassinato do ator Rafael Miguel e dos pais dele, João Alcisio e Miriam Selma Miguel, em junho de 2019, na zona sul de São Paulo. O crime, considerado um dos mais brutais e midiáticos dos últimos anos, foi motivado por ciúmes e intolerância do réu em relação ao namoro da filha, Isabela Tibcherani, com o jovem ator.
Condenação unânime no Tribunal do Júri
A sentença foi proferida no Fórum Criminal da Barra Funda, na capital paulista, pelo juiz Antonio Carlos Pontes de Souza, com base na decisão da maioria dos sete jurados — quatro homens e três mulheres. Cupertino foi condenado por três homicídios triplamente qualificados, por motivo fútil, meio cruel e recurso que dificultou a defesa das vítimas. O réu não acompanhou a leitura da sentença.
A decisão foi recebida com comoção e alívio por familiares das vítimas, que estiveram presentes durante o julgamento e comemoraram o desfecho do caso.
O crime
O triplo homicídio ocorreu em 9 de junho de 2019, em frente à casa de Isabela Tibcherani, então com 18 anos, no bairro da Pedreira. Segundo a investigação, Cupertino atirou à queima-roupa contra Rafael Miguel, 22, e os pais do ator após uma breve discussão. As vítimas não tiveram chance de defesa. Câmeras de segurança flagraram a ação do empresário, que fugiu logo em seguida.
O Ministério Público sustentou que o crime foi motivado pelo ódio irracional de Cupertino em relação ao namoro da filha com Rafael, o que configurou o motivo fútil da acusação.
Fuga e captura
Após os assassinatos, Cupertino fugiu e permaneceu foragido por quase três anos, sendo incluído na lista de procurados da Interpol. Durante esse período, utilizou identidades falsas, passou por vários estados brasileiros e chegou a sair do país. Foi preso em maio de 2022, na zona sul de São Paulo, por equipes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Outros dois acusados de ajudar na fuga — Wanderley Antunes e Eduardo Machado — foram absolvidos pelo tribunal.
Negativas e contradições no depoimento
No interrogatório prestado durante o júri, Paulo Cupertino negou ser o autor do crime, afirmou que apenas presenciou os corpos das vítimas e tentou responsabilizar supostos “vagabundos” pelo triplo homicídio. Disse ainda que as imagens das câmeras de segurança não o identificavam e que a fuga foi motivada por “medo de represálias”.
A estratégia da defesa, conduzida pelas advogadas Juliane Oliveira e Miriam Souza, foi baseada em tentar desqualificar as provas apresentadas pela acusação. Alegaram a ausência de perícia balística conclusiva e falta de testemunha ocular dos disparos.
Testemunhos contundentes
Durante o julgamento, sete testemunhas foram ouvidas, incluindo Isabela Tibcherani e a mãe dela, Vanessa Tibcherani, ex-companheira do réu. Ambas afirmaram categoricamente que Paulo Cupertino foi o autor dos disparos. “Ele matou as três pessoas a sangue frio”, declarou Vanessa, emocionada, durante o depoimento.
Vítima conhecida do público
Rafael Miguel era um ator conhecido do público brasileiro, tendo atuado em novelas como “Chiquititas” (SBT) e comerciais de grande repercussão, incluindo o famoso anúncio de vegetais em que pede brócolis para a mãe. Sua morte gerou comoção nacional e mobilização nas redes sociais, além de grande repercussão na imprensa.
Com a sentença, encerra-se um dos casos de feminicídio indireto e intolerância familiar mais emblemáticos dos últimos anos, marcado por fuga internacional, ampla cobertura midiática e mobilização pública por justiça.
Edição: Damata Lucas – Imagem: Reprodução
