— E o que pais e educadores podem aprender com isso
Uma nova pesquisa do Pew Research Center ajuda a lançar luz sobre um universo que muitos pais consideram um verdadeiro mistério: o mundo dos adolescentes. O estudo, divulgado recentemente, mostra que meninos e meninas compartilham preocupações importantes, como pressão escolar e saúde mental, mas vivenciam esses desafios de maneiras diferentes — o que indica a necessidade de apoios distintos para cada grupo.
A pesquisa foi realizada entre setembro e outubro com 1.391 adolescentes americanos entre 13 e 17 anos. Segundo os organizadores, o objetivo era compreender melhor como os jovens estão vivendo a experiência escolar e se essas vivências variam de acordo com o gênero.
“Queríamos entender os desafios atuais dos adolescentes, especialmente em relação à escola, e se há diferenças nas vivências entre meninos e meninas”, explicou Kim Parker, diretora de pesquisa de tendências sociais do Pew.
Pressão e desempenho escolar: uma realidade compartilhada
De modo geral, tanto meninos quanto meninas relataram sentir forte pressão para obter boas notas — um reflexo do quanto valorizam o futuro profissional. Ambos os grupos apontaram como prioridades encontrar uma carreira satisfatória, ter estabilidade financeira e cultivar amizades duradouras.
Apesar disso, a percepção de desempenho escolar não é igual: muitos adolescentes acreditam que as meninas tiram notas melhores e são mais favorecidas pelos professores. Os dados, de fato, mostram que elas têm, em média, um desempenho acadêmico superior. Especialistas apontam que essa diferença pode estar relacionada a métodos de ensino que favorecem comportamentos mais comuns entre as meninas, como serem mais calmas e menos impulsivas — características influenciadas por diferenças no desenvolvimento neurológico durante a adolescência.
Amizades: apoio essencial, mas desigual
O estudo também analisou como os adolescentes se relacionam com seus pares. A maioria afirmou ter amigos próximos, mas a proporção foi maior entre meninas (95%) do que entre meninos (85%).
Segundo especialistas, isso reflete normas sociais que ainda desencorajam meninos a expressarem emoções ou construírem laços mais íntimos. “Ainda socializamos os meninos para que evitem mostrar vulnerabilidade. Isso compromete o desenvolvimento de conexões mais profundas e prejudica seu bem-estar emocional”, disse a psicóloga Lisa Damour, que analisou os dados, embora não tenha participado da pesquisa.
Saúde mental: diferentes formas de expressar sofrimento
A pesquisa também revelou diferenças significativas na forma como meninas e meninos expressam angústia. Enquanto elas são mais propensas a apresentar quadros de ansiedade e depressão, eles tendem a externalizar o sofrimento por meio de comportamentos disruptivos, como brigas ou uso de substâncias.
“É um erro pensar que meninos apenas têm problemas comportamentais. Muitas vezes, esses comportamentos são sintomas de sofrimento emocional”, alerta Damour. “A raiva, a impulsividade ou atitudes autodestrutivas podem ser sinais de depressão ou desconexão social.”
A educadora parental Michelle Icard complementa: “Quando um menino age de forma imprudente, tendemos a rotular como ‘aventureiro’. Mas isso pode refletir um sentimento de solidão e desconexão.”
Um chamado à mudança: adaptar o apoio ao adolescente
Os especialistas concordam que é preciso repensar a forma como lidamos com os adolescentes, tanto em casa quanto na escola. Modelos de ensino mais variados, com abordagens práticas, podem ajudar principalmente os meninos a se engajar mais no aprendizado. Além disso, é essencial abrir espaço para que meninos também possam expressar emoções vulneráveis sem julgamentos.
“A adolescência é um período intenso e desafiador, mas também é uma fase em que os jovens estão profundamente conectados com o desejo de construir um futuro significativo”, afirma Damour. “Eles merecem adultos atentos, dispostos a ouvi-los e a apoiá-los conforme suas necessidades individuais.”
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