Você está em uma conversa agradável, talvez em um evento social ou no ambiente de trabalho. Alguém acabou de se apresentar, mas poucos minutos depois… o nome da pessoa simplesmente evaporou da sua mente. Soa familiar? Se sim, saiba que você não está sozinho. Esquecer o nome de alguém logo após conhecê-lo é uma experiência muito comum — e, apesar de constrangedora, é perfeitamente compreensível à luz da ciência.
Esquecer nomes não é sinal de desatenção (necessariamente)
É fácil pensar que o esquecimento está ligado à falta de atenção ou de interesse, mas essa conclusão pode ser precipitada. Diversos estudos em psicologia cognitiva mostram que esse tipo de esquecimento está mais relacionado à forma como nosso cérebro armazena e recupera informações — e menos a uma falha de caráter ou de boas maneiras.
Uma das pesquisas mais citadas nesse contexto é o paradoxo Baker/Baker, que revela muito sobre como funciona a nossa memória.
O experimento do paradoxo Baker/Baker
Nesse estudo, dois grupos de participantes foram apresentados à mesma fotografia de uma pessoa desconhecida. Para o primeiro grupo, disseram que o nome da pessoa era “Baker” (um sobrenome comum em inglês). Já para o segundo grupo, informaram que aquela pessoa era, na verdade, um “baker” — ou seja, padeiro em inglês.
O resultado? O segundo grupo, que ouviu a palavra associada a uma profissão, teve muito mais facilidade em lembrar da informação posteriormente.
A explicação está no poder das associações mentais. Quando ouvimos “padeiro”, nosso cérebro conecta essa informação com imagens, cheiros e experiências — o cheiro do pão, a visão de uma padaria, a ideia de café da manhã. Já “Baker”, como nome próprio, é apenas um rótulo arbitrário, sem ligação direta com experiências sensoriais ou significados profundos. Por isso, é mais fácil esquecer.
O que acontece no cérebro?
Segundo os pesquisadores Deborah Burke e Donald MacKay, que estudaram o funcionamento da memória nos anos 1990, palavras comuns como “cachorro” ou “médico” têm representações fortes tanto no som quanto no significado. Nomes próprios, por outro lado, são “fragilmente codificados”, ou seja, mais difíceis de serem fixados e recuperados.
Além disso, o nosso cérebro tende a priorizar o que considera importante ou relevante emocionalmente. Quando estamos sobrecarregados, ansiosos ou cansados, nossa mente pode simplesmente decidir que um nome recém-aprendido não é prioridade — especialmente se ainda não houver uma conexão emocional ou um contexto forte para “ancorar” essa informação.
Esquecer nomes é normal — e pode ter várias causas
Entre os principais motivos para esquecermos nomes estão:
- Ausência de contexto significativo: Sem uma história, imagem ou emoção associada, o nome fica “solto” na memória.
- Estresse ou cansaço mental: A sobrecarga pode prejudicar a retenção de informações recentes.
- Multitarefa e distração: Se estamos ocupados pensando em outra coisa (como o que vamos dizer em seguida), o cérebro não registra direito o que acabou de ouvir.
- Falta de estratégias mnemônicas: Algumas pessoas têm o hábito de reforçar o que aprendem; outras não.
Dicas práticas para lembrar melhor os nomes
A boa notícia é que existem estratégias simples que ajudam a fixar nomes com mais facilidade. Veja algumas delas:
- Repita o nome em voz alta logo após ouvi-lo. Exemplo: “Prazer, João!” – “Prazer, João, muito bom te conhecer!”
- Associe o nome a uma imagem mental ou a uma característica marcante da pessoa.
- Relacione com alguém que você já conhece com o mesmo nome.
- Use o nome durante a conversa, algumas vezes, para reforçar o aprendizado.
- Crie rimas ou jogos mentais. Por exemplo: “Paulo toca pandeiro” ou “Marina mora perto do mar”.
Constrangimento desnecessário
Embora esquecer nomes possa gerar desconforto, é importante lembrar que isso não define sua atenção, seu interesse ou sua educação. A ciência mostra que nosso cérebro é seletivo — e nomes próprios, infelizmente, nem sempre passam no “filtro” da memória. A melhor atitude é ser gentil, admitir com leveza o esquecimento e seguir em frente. Afinal, todos já passamos por isso.
Edição: Damata Lucas – Imagem: Freepik