Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental divide opiniões e é apontado como maior retrocesso ambiental em 40 anos

Por Damata Lucas

Está em pauta no Senado o Projeto de Lei (PL) 2159/2021, que propõe um novo marco legal para o licenciamento ambiental no Brasil. Com previsão de votação nas comissões de Meio Ambiente e Agricultura na próxima semana, a proposta tem gerado intensos debates entre ambientalistas, autoridades, parlamentares e representantes da sociedade civil.

Para críticos, o projeto representa um conjunto de retrocessos ambientais sem precedentes. Já os defensores argumentam que a medida trará segurança jurídica, agilidade e padronização aos processos, considerados hoje lentos e burocráticos.


Aspectos negativos: retrocessos, autolicenciamento e insegurança jurídica

Entre os principais pontos de crítica está a criação da chamada Licença por Adesão e Compromisso (LAC), que, segundo o secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João Paulo Capobianco, permite o autolicenciamento por parte dos empreendedores. Na prática, isso significaria a obtenção automática da licença mediante o preenchimento de um formulário digital.

“É como se fosse uma licença por W.O. O impacto ambiental continua lá, mas não haverá avaliação real sobre ele”, alertou Capobianco durante seminário na Universidade de Brasília (UnB).

Capobianco também destacou que o projeto fragiliza a responsabilidade por impactos ambientais indiretos, transferindo ao Estado a obrigação de mitigar danos causados por empreendimentos privados, e reduz a participação social nos processos de licenciamento, esvaziando órgãos colegiados como os conselhos estaduais e o Conama.

A coordenadora do Observatório do Clima, Suely Araújo, foi ainda mais enfática ao classificar o PL como o “maior retrocesso ambiental dos últimos 40 anos”. Segundo ela, o modelo da LAC esvazia a essência do licenciamento, que exige análise técnica, estudo de impacto e avaliação de alternativas.

“Você não apresenta estudo ambiental, apenas descreve o que pretende fazer. Isso não é licenciamento ambiental. Isso é apertar um botão para imprimir uma licença.”

Outro ponto polêmico é a exclusão do licenciamento para atividades agropecuárias, especialmente a pecuária extensiva, o que é visto como um “passar boiada” pelas entidades ambientalistas. Além disso, órgãos como ICMBio, Funai e Iphan teriam suas competências enfraquecidas no novo modelo.


Argumentos favoráveis: agilidade, padronização e estímulo ao desenvolvimento

Por outro lado, parlamentares e setores do agronegócio e da infraestrutura defendem o projeto como uma modernização necessária. A relatora na Comissão de Agricultura, senadora Tereza Cristina (PP-MS), afirma que o objetivo é agilizar os licenciamentos sem comprometer a eficiência.

“Precisamos de um sistema menos burocrático, que não trave obras essenciais para o país.”

O senador Confúcio Moura (MDB-RO), relator na Comissão de Meio Ambiente, argumenta que o PL busca unificar normas conflitantes entre os estados e criar um ambiente de maior segurança jurídica para empreendedores.

“Hoje, um empreendimento em Minas Gerais tem regras diferentes de um no Pará. Isso gera confusão e insegurança. O novo marco busca pacificar essas diferenças.”

Para o senador Zequinha Marinho (Podemos-PA), a lentidão do licenciamento ambiental tem inviabilizado projetos importantes como ferrovias, hidrovias e hidrelétricas.

“Não se trata de ser irresponsável, mas de permitir que o país se desenvolva.”


Desafios e perspectivas

Embora os defensores da proposta aleguem que o PL é uma resposta à morosidade e à sobreposição de normas, especialistas alertam que a solução não está na flexibilização excessiva, mas sim no reforço das equipes técnicas e na qualidade dos estudos ambientais apresentados pelos empreendedores.

“O problema não é o licenciamento, mas sim a precariedade dos estudos. Muitos são mal feitos, o que atrasa ainda mais os processos”, afirmou Suely Araújo.

O governo federal tenta negociar mudanças para minimizar os efeitos negativos do texto, mas reconhece que o tempo é curto. A expectativa é que o projeto seja votado nas comissões e vá ao plenário do Senado ainda neste mês.


Resumo: prós e contras do PL 2159/2021

Aspectos PositivosAspectos Negativos
Padronização nacional das normasFragilização do controle ambiental
Agilidade nos licenciamentosAutolicenciamento sem estudos técnicos
Maior segurança jurídica para investidoresRedução da participação social nos conselhos
Desburocratização de processosIsenção para agropecuária e impactos indiretos ignorados
Estímulo ao desenvolvimento econômicoEnfraquecimento de órgãos como ICMBio, Funai e Iphan

O debate segue acirrado. Enquanto setores da economia clamam por agilidade e desburocratização, ambientalistas, juristas e cientistas alertam para os riscos de um modelo que privilegia a celeridade em detrimento da proteção ambiental. O desfecho desse embate poderá redefinir o futuro da política ambiental brasileira.

Imagem: Agência Brasil – Santuário dos Elefantes/Divulgação

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