Você chora com facilidade? Sente-se constantemente ansioso, com medo ou explodindo por qualquer motivo? Se sim, talvez esteja tentando encontrar maneiras de lidar com essas emoções intensas para evitar críticas — sejam elas externas ou internas. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o problema não está em sentir demais.
Na verdade, quanto mais reprimimos emoções ao longo da vida, mais desconforto elas causam. E é justamente aí que entra a regulação emocional — uma prática que não visa controlar ou eliminar sentimentos, mas sim aprender a compreendê-los e acolhê-los.
O que é regulação emocional?
Regulação emocional é a capacidade de perceber, compreender e lidar com as próprias emoções de forma saudável. Longe de ser uma tentativa de “domar” os sentimentos, essa habilidade nos convida a reintegrar emoções reprimidas com compaixão e curiosidade.
Modelos terapêuticos como os Sistemas Familiares Internos (IFS), desenvolvido por Richard Schwartz, e as práticas da Experiência Somática (SE®), de Peter Levine, mostram que nossas emoções não são inimigas. Pelo contrário, são partes nossas que, muitas vezes, apenas querem ser vistas.
Por que reprimimos tanto?
Frases como “engole o choro” ou “não faz escândalo” moldaram a forma como muitos de nós lidamos com emoções difíceis desde a infância. A criança que precisava ser boazinha não podia demonstrar raiva. O adolescente que enfrentou perdas sem apoio aprendeu a silenciar sua tristeza.
Com o tempo, essas emoções se acumulam, e criamos mecanismos de defesa que parecem nos proteger, mas acabam nos desconectando de quem realmente somos.
O modelo IFS nos ajuda a entender essa dinâmica: nossa mente abriga diversas “partes”, cada uma com sua função. Algumas carregam feridas emocionais profundas, enquanto outras atuam como protetoras, tentando nos manter seguros — mesmo que isso signifique reprimir sentimentos.
Emoções também se manifestam no corpo
Segundo a Experiência Somática, o trauma não está no que vivemos, mas em como nosso corpo reage a essas experiências. Muitas vezes, raiva, tristeza e medo se expressam fisicamente: um nó na garganta, um aperto no peito, tensão nos ombros.
Quando levamos a atenção de forma gentil para essas sensações — sem julgamento —, iniciamos um processo natural de autorregulação.
Exercício simples:
Em momentos de emoção intensa, pergunte-se:
• Onde essa emoção está no meu corpo?
• Há calor, frio, pressão, dor?
• E se eu apenas observar, com curiosidade, o que acontece?
Esse tipo de presença corporal nos reconecta com sensações que, por muito tempo, aprendemos a ignorar.
Caminhos práticos para regular suas emoções
Unindo os conceitos do IFS e da Experiência Somática, é possível desenvolver uma relação mais gentil com as próprias emoções. Veja como:
- Identifique quem está no comando: A parte ansiosa? O crítico interno? A criança ferida?
- Observe como isso se manifesta no corpo: Tensão no pescoço? Estômago revirado? Coração acelerado?
- Crie espaço para diálogo interno: Pergunte a essa parte o que ela precisa. Não tente corrigi-la, apenas escute.
- Permita a sensação: Em vez de lutar, acolha. Deixe que a emoção se manifeste, e ela encontrará um novo equilíbrio.
Autorregulação e corregulação: o poder do vínculo seguro
Muitas pessoas não aprenderam a se autorregular na infância — e está tudo bem. A boa notícia é que essa habilidade pode ser desenvolvida. E, muitas vezes, o caminho começa na corregulação: vivenciar emoções ao lado de alguém que transmite segurança, como um psicoterapeuta, um amigo empático ou um familiar acolhedor.
Com o tempo, você aprenderá a reconhecer os sinais do corpo e a lidar com as emoções antes que elas se tornem avassaladoras.
Conclusão: mais inteiros, mais autênticos
Regular emoções não é suprimir o que sentimos, mas recuperar partes de nós que ficaram esquecidas. É um convite para viver com mais autenticidade, presença e leveza.
Quando aprendemos a sentir, escutar e acolher o que se passa dentro de nós, tornamo-nos mais inteiros — e essa é uma das formas mais profundas de liberdade emocional.
Edição: Clique PI- Imagem: Freepik