Criada inicialmente para tratar a disfunção erétil, a tadalafila vem ultrapassando os limites das farmácias e se transformando em um verdadeiro fenômeno cultural. Citada em músicas, comentada nas redes sociais e promovida por influenciadores, a substância ganhou popularidade entre públicos diversos, desde quem busca melhorar a performance sexual até frequentadores de academias em busca de um “pré-treino alternativo”.
No entanto, especialistas alertam: apesar da fama, a automedicação com tadalafila pode trazer riscos à saúde, e muitas das alegações populares sobre seus efeitos carecem de respaldo científico.
Crescimento expressivo nas vendas
Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as vendas do medicamento dispararam nos últimos anos. Em 2020, foram comercializadas 21,4 milhões de caixas no Brasil. Em 2023, o número saltou para 47,2 milhões, e apenas no primeiro semestre de 2025 já foram vendidas 31,1 milhões de caixas. Esse crescimento aponta não apenas para o aumento do uso médico, mas também para o avanço do consumo recreativo.
Popularização além do consultório
O urologista Rafael Pauletti, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia no Rio Grande do Norte (SBU-RN), explica que muitos pacientes têm buscado a prescrição não apenas para tratar disfunção erétil, mas também em busca de benefícios no desempenho físico e sexual. “Eu desencorajo fortemente o uso da tadalafila com essas finalidades. Não há comprovação científica de benefícios no desempenho esportivo para indivíduos saudáveis”, afirma.
No meio esportivo, estudos como o publicado na revista Minerva Endocrinology demonstram que doses de 20 mg não alteram significativamente parâmetros como consumo máximo de oxigênio ou limiares aeróbicos e anaeróbicos em condições normais de oxigenação, derrubando a ideia de que o medicamento melhoraria o rendimento atlético.
Já no campo sexual, embora a tadalafila tenha eficácia comprovada para tratar a disfunção erétil, especialistas alertam para o uso recreativo. Segundo Pauletti, o medicamento não causa dependência física, mas pode gerar dependência psicológica, criando a falsa sensação de que o desempenho sexual depende sempre do uso da substância.
Outras indicações médicas
Além da disfunção erétil, a tadalafila é aprovada para tratar condições como a hiperplasia prostática benigna (aumento benigno da próstata) e a hipertensão arterial pulmonar, doença grave que afeta os vasos sanguíneos dos pulmões. Nessas indicações, o medicamento atua como vasodilatador, melhorando o fluxo sanguíneo e a oxigenação tecidual.
Efeitos colaterais e riscos
Assim como outros medicamentos para disfunção erétil, a tadalafila pode causar efeitos adversos, incluindo dores de cabeça, tontura, congestão nasal e distúrbios gastrointestinais. O uso sem prescrição eleva os riscos, especialmente devido à possibilidade de interações medicamentosas e à aquisição de produtos falsificados de origem duvidosa.
“Pessoas saudáveis que usam a tadalafila sem necessidade médica podem sofrer queda de pressão arterial e aumento da frequência cardíaca, o que é perigoso, principalmente durante atividades físicas intensas”, alerta Pauletti.
O educador físico Charlles Rodrigues confirma que o uso do medicamento vem crescendo nas academias, mas adverte: “Não existe comprovação de que a tadalafila otimize o desempenho esportivo. As pessoas acabam sendo levadas pelo efeito manada, baseando-se em relatos anedóticos”.
Rodrigues destaca ainda os riscos cardiovasculares, como desmaios, arritmias e até eventos graves, especialmente quando o medicamento é utilizado de forma descontrolada. No caso das mulheres, que tendem a ter pressão arterial mais baixa, o perigo de hipotensão e desmaios é ainda maior.
Alternativas seguras para melhorar desempenho
Para quem deseja melhorar a performance física, Rodrigues recomenda estratégias baseadas em evidências: uma alimentação equilibrada, sono de qualidade, hidratação adequada, treino estruturado e o uso de suplementos com eficácia comprovada, como proteína, creatina e beta-alanina.
“O corpo evolui no descanso. É durante o sono que ocorre a regeneração muscular e o ganho de massa. Sem falar na importância do planejamento e da individualização dos treinos”, reforça o educador.
Como a tadalafila age no organismo
A tadalafila promove vasodilatação ao inibir a enzima fosfodiesterase tipo 5 (PDE5), resultando no relaxamento da musculatura lisa das artérias, o que aumenta o fluxo sanguíneo, especialmente no pênis. Esse mecanismo, embora eficaz no tratamento da disfunção erétil, não se traduz automaticamente em ganhos de performance física ou aumento de massa muscular.
O alerta final dos especialistas
O crescimento do uso recreativo da tadalafila reflete não apenas a busca por performance, mas também as pressões culturais em torno da sexualidade e do corpo. Médicos e profissionais da saúde reforçam que qualquer uso do medicamento deve ser supervisionado, evitando riscos desnecessários à saúde.
“Antes de buscar soluções rápidas em medicamentos, é fundamental investir em hábitos saudáveis. Isso sim é a verdadeira base de um bom desempenho físico e sexual”, conclui Charlles Rodrigues.