Um escárnio contra o Brasil pobre: deputados querem aposentadoria e salário ao mesmo tempo

Enquanto milhões de brasileiros enfrentam filas no SUS, cortes em programas sociais e um mercado de trabalho que castiga os mais vulneráveis, a Câmara dos Deputados dá mais uma demonstração de cinismo institucionalizado. Um novo projeto de lei, apresentado pela própria Mesa Diretora da Casa — sob a assinatura do presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) — propõe revogar o artigo da Lei 9.506/97 que impede o acúmulo de aposentadoria com o salário de deputado federal. Se aprovado, o projeto abrirá as portas para que parlamentares recebam, ao mesmo tempo, suas gordas aposentadorias e seus polpudos salários.

Isso mesmo. Em um país que ainda luta para garantir um salário mínimo digno, deputados querem se autoconceder um privilégio vergonhoso. E fazem isso sob a mais pura lógica da autoproteção, como se o Parlamento fosse um clube fechado de benesses eternas, em que os senhores do poder legislam apenas em causa própria.

Não bastasse a tentativa de restaurar o acúmulo de vencimentos — já banido por lei justamente por ser inaceitável moral e financeiramente —, o projeto ainda prevê a criação de uma gratificação de fim de ano para aposentados e pensionistas do Congresso Nacional. Uma espécie de “13º do privilégio”, pago com o suor do povo que mal chega ao fim do mês. É isso mesmo: um bônus natalino para quem já vive à sombra do luxo estatal, enquanto se propõe o congelamento do salário mínimo e cortes no Benefício de Prestação Continuada (BPC), no Minha Casa Minha Vida e até no Pé-de-Meia, programa voltado para jovens pobres.

E há mais. Esse ataque ao bom senso ocorre no exato momento em que a Câmara ameaça derrubar uma medida provisória do governo que tenta justamente cobrar contribuição dos super-ricos, dos que lucram com fundos exclusivos, mercado financeiro e grandes fortunas. Ou seja, para os ricos, anistia e blindagem. Para os próprios deputados, mais dinheiro, mais regalias, mais acúmulos. Para os pobres? Cortes. Sacrifícios. Silêncio.

A proposta assinada por Hugo Motta e representantes do PL, PP, União Brasil, PT e PSD é uma indecência coletiva, um roubo institucionalizado que rasga qualquer noção de justiça social. É uma afronta não apenas ao erário público, mas também à inteligência do povo brasileiro.

Enquanto o discurso público prega responsabilidade fiscal, ajuste de contas e contenção de gastos, na prática o que se vê é a multiplicação de privilégios para uma elite política que não se envergonha de legislar para si mesma, alimentando um sistema de castas sustentado por verbas públicas e emendas parlamentares cada vez mais obscuras e inchadas.

Essa não é uma Câmara preocupada com o Brasil. É uma Câmara preocupada com o próprio bolso. É um projeto de poder que transforma o Parlamento numa máquina de sugar recursos que deveriam ir para a saúde, educação, habitação, infraestrutura e segurança alimentar.

O povo brasileiro precisa saber: quem quer cortar o Bolsa Família é o mesmo que quer dobrar o próprio salário com aposentadoria cumulativa. Quem resiste a taxar os super-ricos é o mesmo que quer bônus natalino com dinheiro público. Quem fala em conter gastos é o mesmo que destrava manobras para manter privilégios indecentes.

Esse projeto não é apenas imoral. É um tapa na cara do país real.

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