Vítima de feminicídio em GO morre após um mês internada com mais de 30 facadas; veja números desse crime no PI

Após 27 dias de luta pela vida em uma unidade hospitalar, Aranalla Janaína, 33 anos, não resistiu aos ferimentos provocados por um ataque brutal e morreu no sábado (25/5). A vítima foi golpeada com 32 facadas pelo companheiro, de 40 anos, dentro de uma kitnet localizada na Avenida Benjamin Constant, região central de Pirenópolis (GO), em 28 de abril. A morte foi comunicada por familiares à Polícia Civil de Goiás (PCGO).

O crime ocorreu em um imóvel antigo transformado em várias kitnets, próximo à entrada da cidade, em um cenário descrito por agentes como “chocante e de extrema violência”. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Tibério Martins, o autor do crime havia se mudado para o local cerca de um mês antes, alugando uma das unidades. Ele morava com a mãe nas proximidades, mas passou a viver sozinho, recebendo visitas frequentes da vítima, com quem mantinha um relacionamento conturbado.

Ataque covarde após discussão

No dia do crime, após uma discussão, o homem desferiu dezenas de facadas contra Aranalla, atingindo principalmente a região do tórax e abdômen. A violência do ataque impressionou até mesmo os investigadores mais experientes. O dono do imóvel, ao ouvir os gritos e perceber a briga, acionou a Polícia Militar (PMGO), que chegou rapidamente ao local. A vítima foi socorrida com vida, mas em estado gravíssimo, sendo internada imediatamente.

Os militares relataram um ambiente de terror: móveis revirados, objetos espalhados por todos os cômodos e poças de sangue indicando a brutalidade do ataque. O autor foi preso em flagrante e, na delegacia, preferiu manter-se em silêncio. Ele foi autuado por feminicídio — homicídio qualificado cometido contra mulher por razões da condição de sexo feminino — e poderá ser condenado a uma pena que varia entre 20 e 40 anos de reclusão.

Relacionamento marcado por idas e vindas

Segundo relatos colhidos durante as investigações, o relacionamento entre a vítima e o autor do crime teve início há cerca de 20 anos, sendo marcado por diversos rompimentos e reconciliações. Durante um período de separação, o homem se casou com outra mulher e teve filhos. Aranalla também constituiu família, casou-se com outro companheiro e teve dois filhos, atualmente com 8 e 10 anos. Após o fim desses relacionamentos, o casal reatou a união — que terminaria de forma trágica.


Feminicídio no Brasil e no Piauí: realidade alarmante

Casos como o de Aranalla escancaram uma realidade cruel e persistente no Brasil. Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o país registrou 1.463 feminicídios em 2023 — uma média de 4 mulheres assassinadas por dia simplesmente por serem mulheres. A maioria das vítimas é morta dentro de casa e por companheiros ou ex-companheiros, evidenciando o risco que muitas enfrentam mesmo em ambientes que deveriam ser seguros.

Piauí: aumento da violência letal contra mulheres

No estado do Piauí, os índices também revelam um cenário preocupante. Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam que o Piauí registrou 41 mortes violentas intencionais de mulheres em 2023, das quais 19 foram classificadas como feminicídios — um aumento em relação ao ano anterior. Teresina, Parnaíba e Floriano estão entre os municípios com maior incidência.

A Secretaria de Segurança Pública do Piauí tem intensificado ações de prevenção e combate à violência doméstica, incluindo o fortalecimento das Delegacias da Mulher e a ampliação do programa Mulher Protegida, que oferece medidas protetivas monitoradas por tornozeleiras eletrônicas. Ainda assim, especialistas alertam que a subnotificação continua sendo um desafio, especialmente em áreas rurais e comunidades mais isoladas.

Além disso, o perfil das vítimas piauienses segue o padrão nacional: mulheres jovens, negras, com vínculos afetivos com os agressores. A maioria dos crimes ocorre dentro da residência da vítima, após ciclos prolongados de violência psicológica e física.


Legislação e enfrentamento

Desde 2015, com a entrada em vigor da Lei nº 13.104, o feminicídio passou a ser qualificado como crime hediondo, com penas mais severas. No entanto, apenas o endurecimento da legislação não é suficiente. O combate efetivo ao feminicídio exige uma rede integrada de proteção, acolhimento às vítimas, campanhas educativas, agilidade nas medidas protetivas e vigilância ativa sobre agressores reincidentes.

A morte de Aranalla Janaína engrossa uma estatística trágica e reacende o alerta: o feminicídio continua a ser uma das mais graves expressões da violência de gênero no Brasil — e também no Piauí.

Edição: Damata Lucas – Imagem: Rede Social

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