O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), ultrapassou mais uma vez os limites do aceitável ao comparar pessoas em situação de rua a veículos estacionados em locais proibidos, sugerindo que o Brasil deveria ter uma legislação que permitisse “remover” esses cidadãos da mesma forma como se guincha um carro. A declaração, feita em entrevista à rádio Jovem Pan na última quinta-feira (5), não é apenas desumana e discriminatória, mas revela um projeto político que aposta no ódio às minorias, na banalização da miséria e no autoritarismo para angariar apoio da extrema-direita e se projetar como candidato à Presidência da República em 2026.
“Quando você para um carro em lugar proibido, ele é removido, guinchado. Agora fica morador de rua às vezes na porta da casa de uma idosa, atrapalhando ela a entrar em casa, fazendo sujeira, colocando a vida dela em exposição”, disse Zema, sugerindo que a resposta a isso seja uma espécie de “guincho humano”.
A fala não apenas desrespeita a dignidade de milhares de pessoas em situação de rua, vítimas de desigualdade, abandono estatal e negligência histórica, como propaga uma visão higienista, violenta e absolutamente incompatível com qualquer ideal democrático ou civilizatório. E não é um caso isolado.
Um histórico de ataques às minorias
Zema coleciona declarações polêmicas — ou melhor dizendo, ataques explícitos a direitos humanos e discursos de ódio travestidos de opinião política. Recentemente, em entrevista à Folha de S.Paulo, o governador relativizou a existência da ditadura militar no Brasil (1964-1985) e prometeu conceder indulto a Jair Bolsonaro, caso o ex-presidente seja condenado por tentativa de golpe de Estado.
Em 2023, já havia causado indignação ao comparar os estados do Norte e Nordeste a “vaquinhas improdutivas”, além de ter compartilhado uma frase de Benito Mussolini, ditador fascista italiano, nas redes sociais. Para quem ainda tinha dúvidas, a agenda ideológica de Zema está cada vez mais alinhada a práticas autoritárias e a um modelo de política excludente, preconceituosa e regressiva.
Discurso linha-dura com resultados desastrosos
Apesar do discurso endurecido sobre segurança pública — agora inspirado no modelo repressivo do presidente de El Salvador, Nayib Bukele —, Zema fracassa em sua própria casa. Segundo o Atlas da Violência, Minas Gerais registrou aumento de 3,2% na taxa de homicídios em 2023, enquanto o restante do país teve queda de 2,3%. O cenário piora diante do contingenciamento de R$ 1 bilhão, que paralisou o treinamento de novos policiais militares, reduziu diligências e obrigou a Polícia Civil a racionar combustível.
Como pode alguém que não consegue garantir segurança pública em seu próprio estado pretender exportar “soluções” de repressão em nível nacional? Zema ignora as causas estruturais da violência e da pobreza, preferindo criminalizar os vulneráveis e militarizar o caos — uma fórmula já testada, fracassada e condenada por entidades de direitos humanos em todo o mundo.
Projeto de poder sem projeto de país
Ao investir em declarações grotescas como a comparação entre seres humanos e objetos, e ao adotar o populismo penal de direita, Zema tenta se tornar a nova face do bolsonarismo — uma direita sem freios, sem empatia e sem compromisso com os fundamentos da Constituição. Não é coincidência que, ao defender o uso das Forças Armadas para patrulhar cidades e reprimir populações pobres, o governador também se coloque como figura salvadora contra um suposto “caos generalizado” que ele mesmo ajuda a construir com cortes orçamentários e abandono das políticas sociais.
A retórica de Romeu Zema não é apenas perigosa; é criminosa. Atenta contra os direitos fundamentais, reforça preconceitos e expõe as populações mais vulneráveis a ainda mais violência, exclusão e sofrimento. O Brasil precisa urgentemente repudiar esse tipo de política — que vê pobreza como crime e miséria como sujeira a ser varrida para debaixo do tapete — e exigir líderes comprometidos com justiça social, inclusão e dignidade humana.
Por Damata Lucas – Imagem: Reprodução IA